Por que o arroz está tão caro?
O aumento expressivo do preço do arroz se deve a um desequilíbrio de oferta e demanda – no caso, a demanda pelo cereal se mostrou mais aquecida que a oferta, elevando o seu preço.
O preço do arroz, um dos principais alimentos da cesta básica do brasileiro, disparou nas prateleiras dos supermercados do país. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), entre janeiro e agosto de 2020, o preço desse alimento já acumulava uma alta de 19,3%.
O aumento expressivo do preço do arroz se deve a um desequilíbrio de oferta e demanda – no caso, a demanda pelo cereal se mostrou mais aquecida que a oferta, elevando o seu preço. Diante disso, há três pontos principais que explicam essa dinâmica:
- Aumento do consumo: a criação do Auxílio Emergencial – que teve por objetivo fornecer alguma proteção financeira às famílias de baixa renda no período de enfrentamento à crise causada pela pandemia de Covid-19 – aqueceu a demanda no mercado interno, sobretudo, por alimentos básicos e não perecíveis, tais como o arroz;
- Aumento das exportações brasileiras: com a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar, as exportações do país foram favorecidas, aumentando a demanda externa por bens brasileiros. Além disso, vale ressaltar que a produção de importantes consumidores de arroz no sudeste asiático ficou abaixo do nível esperado no início da sua safra. Como resultado, de acordo com os dados do Comex Stat, as exportações de arroz se expandiram 57,9% no acumulado entre janeiro e agosto de 2020 em relação ao mesmo período de 2019. Com esse aumento significativo das vendas externas pressionou ainda mais os preços no mercado interno;
- Período de entressafra: o preço do arroz tende a ser mais alto no segundo semestre do ano por ser um período de entressafra e, portanto, uma oferta menor do produto.
Para tentar conter a disparada de preços desse cereal, o governo brasileiro decidiu zerar a alíquota do imposto de importação para o arroz em casca e beneficiado até 31 de dezembro deste ano. Com isso, busca-se aumentar a oferta desse bem no mercado interno e, consequentemente, diminuir seu preço.
No entanto, é válido salientar que, apesar da acertada medida, o valor do arroz não voltará ao patamar que estava no começo do ano por conta de duas razões principais: (i) como as importações brasileiras são realizadas em dólar que, por sua vez, está valorizado frente ao real, o produto chegará caro no mercado interno; e (ii) a quantidade importada não será muito relevante quando comparado ao consumo doméstico total. Diante disso, a expectativa é que o preço desse bem continue alto, pelo menos, até o final do ano.
Além disso, é importante ressaltar que, o arroz não é o único item que vem sofrendo altas significativas de preço nos últimos meses; outros bens importantes na mesa do consumidor tem seguido a mesma dinâmica, tais como o óleo de soja (cujo preço que acumula em 2020 uma alta de 18,6%), farinha de trigo (12,1%), feijão rajado (12,1%), feijão preto (28,9%), leite longa vida (23,0%), dentre tantos outros. Ou seja, o aumento expressivo dos preços não está concentrado apenas em um produto alimentício, mas amplamente disseminado. Dessa forma, a inflação dos produtos associados à alimentação no domicílio acumula uma expansão de 6,1% até agosto de 2020.
Por fim, diante do aumento de preços quase que generalizado dos bens relacionados à alimentação dentro de casa, surge o receio de que isso faça a inflação geral disparar. Contudo, a possibilidade de isso ocorrer é baixa, uma vez que o aumento dos preços de alimentos não costuma contaminar a inflação de outros produtos, diferentemente do que ocorre quando, por exemplo, há uma alta dos preços dos combustíveis, ou algo associado à construção civil ou à alugueis. Assim, mesmo com a inflação alta dos produtos alimentícios consumidos no domicílio (6,1% no acumulado do ano), o índice de inflação geral está em 0,7% no mesmo período, isto é, bem abaixo de meta da inflação (de 4,0%) e até mesmo do piso da meta (de 2,5%).
Inflação da Alimentação no Domicílio (acumulado no ano – até agosto/2020) - %
Fonte: IBGE.
*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional da FGV.