Os energéticos estão dominando a cena da inflação em 2021
O agravamento da crise hídrica e os aumentos do preço do petróleo estão elevando a contribuição dos energéticos na composição da inflação. Nos últimos 12 meses, quase 50% da inflação acumulada pelo IPCA/ IBGE, que até setembro subiu 10,25%, partiram dos reajustes da energia e dos combustíveis.
A crise hídrica e o aquecimento da economia mundial são as principais razões para o crescimento da participação dos energéticos na inflação de 2021.
Segundo o IPCA, 13,5% do orçamento familiar é comprometido pelas despesas com combustíveis, energia elétrica e gás. Entre estes, a gasolina ocupa duas posições de destaque, a segunda maior alta acumulada em 12 meses, 39,6% e, o maior peso no orçamento familiar, 6,09%.
Afora a gasolina, outros combustíveis fósseis também registraram expressivo aumento de preços: GNV (38,46%), gás de botijão (34,67%), diesel (33,05%) e gás encanado (20,36%). A contribuição conjunta dos derivados do petróleo chega a 30% da taxa acumulada em 12 meses pelo índice oficial.
A seca também afetou a safra de cana-de-açúcar e os preços do açúcar, do etanol e do álcool anidro. Este último, misturado à gasolina tipo C na proporção de 27%, contribuiu por parte dos aumentos registrados no preço da gasolina.
Contribuição dos energéticos para a inflação de 2021
Fonte: Elaboração própria com dados do IPCA/IBGE
Já o etanol, principal substituto da gasolina, registrou o maior reajuste entre os combustíveis para veículos, 64,77%. Com esse aumento, o etanol responde por 5,5% da inflação acumulada nos últimos 12 meses.
A falta de chuvas também reduziu os níveis dos reservatórios utilizados para geração de energia hidroelétrica. Parte da energia começou a ser gerada pelas termoelétricas, fonte mais cara e consumidora de combustíveis fósseis. Para fazer frente à geração de energia de fontes mais caras, as bandeiras tarifárias, sistema de cobrança que repassa aos consumidores o aumento dos custos da geração de energia, sofreram reajustes que provocaram alta de 28,8% no preço da energia elétrica nos últimos 12 meses. Essa alta acumulada responde por 13,5% da inflação ao consumidor.
Para o mês de outubro, os combustíveis devem continuar com papel destacado na inflação. A gasolina e o diesel sofreram reajustes que os colocarão entre os itens com maior contribuição para a inflação deste mês.
A energia e os combustíveis são essenciais para o desenvolvimento da atividade produtiva e, por isso, contribuem também para o espalhamento das pressões inflacionárias, encarecendo a produção industrial, a prestação de serviços e o frete. Além disso, esses energéticos respondem por 50% do peso de “preços monitorados”, cuja taxa de variação acumulada em 12 meses chegou a 15,73%, seu maior patamar desde janeiro de 2016.
Preços monitorados
Evolução da Variação % 12 meses
Fonte: Banco Central
Diante de tais fontes de pressão inflacionária, o IPCA de 2021 deve fechar em 9,1%, com os energéticos do- minando a cena da inflação. Para 2022, a estimativa permanece em 4,2%, sustentada pela expectativa de recuo expressivo dos preços da energia a partir de maio desse ano, quando finalmente há possibilidade da prática de bandeiras tarifárias menos onerosas.
A análise foi publicada no Boletim Macro.