Nasce uma mãe, nasce uma empreendedora?

De acordo com a pesquisa realizada pela Rede da Mulher Empreendedora, em parceria com o Instituto Locomotiva, para 87% das entrevistadas a motivação para empreender foi a independência financeira e possibilidade de ter mais tempo para cuidar dos filhos.

Administração
13/05/2024
Luciana Padovez Cualheta

No Brasil, existem cerca de 10,1 milhões de negócios fundados e chefiados por mulheres. Dentre elas, 52% são mães (Sebrae, 2023). A busca pelo empreendedorismo não acontece por acaso. Segundo a pesquisa Think Tank da Fundação Getulio Vargas, metade das mulheres que têm filhos são demitidas em até dois anos após o retorno da licença maternidade e esse número se mantém até quarenta e sete meses após o fim da licença. Por isso, para muitas mulheres que se tornaram mães, o empreendedorismo configura como uma opção viável de carreira e manutenção da renda.

De acordo com a pesquisa realizada pela Rede da Mulher Empreendedora, em parceria com o Instituto Locomotiva, para 87% das entrevistadas a motivação para empreender foi a independência financeira e possibilidade de ter mais tempo para cuidar dos filhos. Já o Sebrae Minas (2023) identificou que a busca por autonomia e a flexibilidade foi fator determinante para 67% das entrevistadas que iniciaram seus próprios negócios.

A GoDaddy realizou uma pesquisa sobre o perfil da empreendedora brasileira em março de 2024 e identificou que 68% delas são mães e 50% têm entre 25 e 39 anos.  Além da flexibilidade de horários, motivador para o empreendedorismo por 1 entre 4 delas, as mães empreendedoras também buscaram iniciar seus negócios para seguir uma paixão (22%) e ter uma fonte adicional de renda para a família (18%). Para 92% das entrevistadas, a vida ficou melhor depois que iniciaram seus negócios.

Isso não quer dizer que o empreendedorismo materno não vem acompanhado de desafios. Dentre eles, está a dificuldade de conciliar o cuidado dos filhos com o negócio, uma vez que as mulheres são mais responsabilizadas pelas tarefas domésticas e cuidado dos filhos do que os homens (Sebrae, 2023). Ainda, 4 em cada 10 mães empreendedoras ainda não têm faturamento suficiente para cobrir os custos do negócio (RME, 2023).

Apesar das dificuldades, é possível encontrar casos de grande sucesso. A Cresci e Perdi, por exemplo, é uma rede de brechós infantis que já tem mais de quinhentas lojas no Brasil e faturamento acima de 11 milhões de reais em 2021. A empresa foi criada pela empreendedora Elaine Alves depois que se tornou mãe. Ela tentou vender as roupas que não serviam mais em seu filho e não encontrou boas opções de brechós. Decidiu então criar seu próprio negócio quando identificou que outras mães passavam pelo mesmo problema.

Várias das mães empreendedoras percebem demandas não atendidas no mercado e costumam criar negócios de mãe para mãe, uma vez que sentem na prática a necessidades daqueles produtos e serviços. Os negócios podem estar relacionados, por exemplo, à venda de brinquedos, produtos para amamentação, e criação e cuidados com os filhos de modo geral. É também o caso da B2Mammy, uma socialtech criada para conectar mulheres e mães a uma comunidade e que já impactou mais de 100 mil pessoas. Dani Junco, fundadora da B2Mammy e autora do livro “Mãe, Por Que Você Trabalha?” faz uma importante ponderação sobre as soft skills altamente demandadas pelo mercado de trabalho e desenvolvidas diariamente pelas mães, como proatividade, a capacidade de adaptação e de comunicação e a paciência de fazer muito sem esperar nada em troca.

Sem dúvidas, a empatia, o pensamento criativo e as habilidades interpessoais desenvolvidas pelas mães podem ser vantagens competitivas e diferenciais ao iniciar seus negócios. Se o mercado de trabalho não está pronto para reconhecer e valorizar as mães e suas habilidades, por que não se aventurar no empreendedorismo como opção de carreira? Precisamos de cada vez mais mães dispostas a topar esse desafio e a mostrar que a maternidade pode sim transformar mulheres em profissionais ainda melhores, com negócios que geram inovação e movimentam a economia do nosso país.

Fonte:

https://portal.fgv.br/think-tank/mulheres-perdem-trabalho-apos-terem-filhos

https://www.redepress.com.br/noticias/2024/03/pesquisa-global-da-godaddy-revela-o-perfil-da-mulher-empreendedora-no-brasil/

https://mg.agenciasebrae.com.br/dados/mais-de-70-das-maes-empreendedoras-iniciaram-o-proprio-negocio-apos-terem-filhos/

https://exame.com/negocios/como-este-brecho-de-crianca-chegou-a-500-lojas-e-quer-faturar-r-1-bilhao-em-2023/

https://www.projetodraft.com/dani-junco-b2mamy-a-culpa-e-uma-coisa-em-comum-a-todas-as-mulheres-e-nao-ajuda-em-nada/

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional da FGV.

Autor(es)

  • Luciana Padovez Cualheta

    Professora de Empreendedorismo e coordenadora da disciplina Experiência Empreendedora na FGV EAESP. Diretora Executiva da FGV Ventures, aceleradora de startups da Escola. Pós-doutora em Administração pelo PPGADM/UFG. Doutora em Administração pela Universidade de Brasília, na linha de pesquisa de Estudos Organizacionais e Gestão de Pessoas, com foco em ensino de empreendedorismo. Mestre em Administração pela Universidade Federal de Goiás,na linha de pesquisa de Empreendedorismo e Inovação. MBA em Marketing pela FGV. Graduação em Administração pela Universidade Federal de Goiás. 

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