Queda na taxa de desemprego aponta melhoria na recuperação da economia brasileira
O desemprego de setembro de 2022 de 8,7% está no menor valor desde julho de 2015. Desde a Covid, houve uma queda bem mais rápida do desemprego ao se comparar com a recessão anterior de 2014-2016.
O ano de 2022 tem trazido surpresas positivas na atividade econômica, sendo a principal delas a queda na taxa de desemprego. No início do ano, os economistas nem esperavam que o desemprego atingisse o dígito único ainda em 2022. O próprio crescimento do PIB também surpreendeu bastante. No final de 2021, o Focus esperava que a variação da atividade fosse de 0.36% e o último resultado no relatório do BCB traz crescimento de 2,71%. Esse artigo aponta algumas razões para a melhora do mercado de trabalho, que se recuperou mais no emprego que nos salários.
O desemprego de setembro de 2022 de 8,7% está no menor valor desde julho de 2015. Desde a Covid, houve uma queda bem mais rápida do desemprego ao se comparar com a recessão anterior de 2014-2016. O nível mais alto dessa recessão foi de 13,9% em março de 2017 e caiu lentamente até 11,1% em dezembro de 2019, diminuindo 2,8pp em quase três anos na série original. Na recessão da Covid, o desemprego mais alto foi de 14,9% em setembro de 2020 e já estamos 5,2pp mais baixo em 2 anos. Um ponto ainda a acrescentar é que se não tivesse havido uma queda da PEA durante a pandemia, o desemprego teria atingido valores acima de 20%, pois muita gente, na recessão, deixa de procurar emprego e sai do mercado de trabalho.
Análises que tentam piorar a boa notícia não se sustentam. No artigo do jornal O Globo, publicado em 30/09/2022 optou-se por comentar a notícia da queda do desemprego, mas dando ênfase que há uma precarização do emprego devido ao maior aumento do emprego sem carteira assinada. Realmente em toda recuperação econômica o emprego informal se recupera mais rapidamente, mas também houve melhoria do emprego formal. Desde o fim do ano de 2019 anteriormente a pandemia, houve a criação de cerca de 1,4 milhão de empregos formais e ao redor de 2,3 milhões de informais.
O único senão do mercado de trabalho é o crescimento da renda, que estava caindo significativamente no princípio do ano. Em janeiro de 2022, o rendimento real efetivo de todos os trabalhos estava 7,2% mais baixo do que o mesmo mês do ano anterior, já no último dado disponível (setembro), há aumento da renda em relação à setembro do ano passado. Uma das razão para o encolhimento dos salários foi a inflação. Em janeiro, a inflação acumulada em doze meses estava crescendo acima de 10% e no último dado disponível de setembro, os preços subiam pouco acima de 7%, portanto, a redução da inflação já está minorando a queda da renda.
Sobre as causas para a melhora do desemprego ser mais surpreendente que o próprio PIB, há dois artigos interessantes. O primeiro sobre possíveis efeitos da reforma trabalhista de 2017. O trabalho é de Bruno Otoni do IDados e do FGV IBRE e Tiago Barreira do IDados. Segundo os autores “Como estratégia adotada, o estudo compara a reforma brasileira com reformas trabalhistas similares implementadas no mundo, como a reforma alemã (2003-2005), e a australiana (1994). Utilizando o Método de Controle Sintético, os efeitos de longo prazo sugerem uma queda média da taxa natural do desemprego brasileiro entre -1,17 p.p (efeito encontrado na Austrália) e -3,46 p.p (efeito encontrado na Alemanha)”
A segunda analise é de Bráulio Borges no Blog do IBRE, que sugere o surpresa do desemprego foi devido a composição setorial do PIB, com maior dinamismo de setores mais intensivos em trabalho. Na sua análise, ele comenta que os setores de Comércio, Construção Civil, Outros Serviços e Serviços Domésticos, que são setores com baixa produtividade e salário médio mais baixo, que estão puxando a recuperação com 55,6% das vagas criadas em doze meses até maio de 2022.
Concluindo, a rápida recuperação da economia e do mercado de trabalho surpreenderam ao longo do ano, principalmente no quesito emprego e menos na renda do trabalho. Porém, essa melhora deve arrefecer nos próximos meses, dado as políticas monetárias e fiscais mais restritivas e ameaça de recessão nos países desenvolvidos. A queda do IBC-BR (prévia mensal do PIB) de agosto em mais de 1% contra o mês anterior pode ser considerado um primeiro indício desse arrefecimento.
*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional da FGV.
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- 10/10/2022Marcelo Kfoury Muinhos