Retrospectiva 2023: Grupo de pesquisa na área de epidemiologia quer antecipar futura pandemia

Foram os estudos nessa área de conhecimento que permitiram responder, ao longo dos últimos três anos, questões como a população que seria mais afetada, o dimensionamento da necessidade de isolamento social e da rede hospitalar para atender aos doentes e a eficácia das vacinas.
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27 十二月 2023
Retrospectiva 2023: Grupo de pesquisa na área de epidemiologia quer antecipar futura pandemia

Em um ambiente de consenso entre pesquisadores sobre a possibilidade de uma nova pandemia se repetir no futuro, é possível e necessário se preparar para novos eventos. A grande dúvida é se pesquisas e estudos serão capazes de prever a evolução de novos vírus e surtos ou se apenas será possível lidar de maneira mais adequada com eles. A análise é de Claudio Struchiner, professor da Escola de Matemática Aplicada (FGV EMAp) e pesquisador em epidemiologia matemática, área que se tornou conhecida durante a pandemia de Covid-19.

Foram os estudos nessa área de conhecimento que permitiram responder, ao longo dos últimos três anos, questões como a população que seria mais afetada, o dimensionamento da necessidade de isolamento social e da rede hospitalar para atender aos doentes e a eficácia das vacinas. E ajudar na tomada de decisões de governos.

De forma resumida, a epidemiologia matemática estuda doenças a partir da matemática e de números. Há métodos para extrair informações de diferentes bases de dados e depois utilizar métodos quantitativos e computacionais para prever, atuar e intervir na dinâmica de transmissão das doenças infecciosas.

Pandemia de Covid-19, surtos anteriores (como o de H1N1 e o de ebola), evolução das ferramentas computacionais, digitalização da informação e da própria biologia - como o sequenciamento viral - são algumas das razões apontadas pelos pesquisadores da FGV EMAp para os avanços da epidemiologia matemática nos últimos anos. E esse movimento será importante nesta preparação para uma provável nova pandemia.

“Há uma certeza, um consenso entre pesquisadores que teremos uma nova pandemia. Mas a grande pergunta é: a gente consegue se anteceder ou não à evolução [de um vírus]. Tem pessoas que argumentam que o processo evolutivo é imprevisível, e outras que argumentam que é possível identificar um padrão evolutivo e se anteceder ao surgimento dessa nova ameaça”, diz Struchiner, integrante do grupo de pesquisas em epidemiologia matemática da FGV EMAp, com seis professores e estudantes de graduação, mestrado e doutorado da instituição.

A formação desses pesquisadores é diversa. Struchiner é formado em medicina, com mestrado em matemática e doutorado em dinâmica populacional de doenças infecciosas. Mas há professores com formação inicial em física, como Guilherme Tegoni Goedert, ou em microbiologia e imunologia, como Luiz Max Carvalho.

O grupo acaba de começar parceria com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), liderados por André Ponce de Leon, em projetos de preparação para uma nova pandemia, como integração de bases de dados e transformação dos dados em informações e uso de inteligência artificial para combater fake news, entre outras. “Não adianta ter desenvolvimento se a população rejeita o conhecimento por percepções equivocadas”, nota Struchiner.

Entre os fatores que contribuem para a chance de uma nova pandemia, estão mudanças climáticas, maior contato do homem com outras espécies - ao entrar em diferentes biomas da natureza - e o modo de vida moderno, com interconectividade e contato físico mais intenso entre as pessoas e em diferentes partes do mundo, na sua avaliação.

Para dar conta desse novo mundo, ganham papel de destaque os avanços em pesquisa em epidemiologia matemática no mundo e no Brasil que possam prever, acompanhar e intervir em crises sanitárias. Struchiner menciona a importância de segmentos como vigilância genômica e vigilância sanitária. No país, cita o Saúde Digital, programa do Ministério da Saúde, uma iniciativa da Fiocruz da Bahia para integrar diferentes bancos de dados, e outro da Fiocruz do Rio também nesta linha.

Alguns dos projetos na fronteira científica foram debatidos no “International Colloquium on Mathematical Modelling in Epidemiology”, que ocorreu de 14 a 17 de agosto na Sede FGV. Um dos participantes foi John Edmunds, pesquisador da London School of Hygiene and Tropical Medicine, foi consultor do governo britânico durante a pandemia. Sua palestra abordou o uso de modelagem econômica. Outro convidado foi o pesquisador da Universidade de Harvard, Mauricio Santillana, que discutiu as lições da Covid-19 no uso de múltiplas abordagens matemáticas para o monitoramento de surtos de doenças

“A ideia também é que a gente consiga sensibilizar os alunos dos vários programas aqui da FGV no sentido de canalizarem sua formação nessa direção”, diz Struchiner.

Esta matéria foi originalmente publicada em 30 de agosto de 2023.

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