Performance dos jovens no mercado de trabalho
Taxas de desemprego e informalidade são maiores para esse grupo etário, principalmente no Norte e Nordeste
O mercado de trabalho performou acima das expectativas ao longo dos últimos meses, com forte geração de postos com carteira assinada e baixa taxa de desemprego. As cinco regiões brasileiras também conseguiram melhorar seus indicadores. No entanto, um grupo que ainda permanece tendo dificuldades para conseguir um emprego é o dos jovens. Este grupo tem enfrentado maiores desafios para se inserir no mercado de trabalho, pois, geralmente, possui níveis de experiência e escolaridade insuficientes ou incompatíveis com os requisitos das vagas ofertadas.
A baixa inserção dos jovens no mercado de trabalho é um dos muitos desafios contemporâneos para o desenvolvimento dos países, pois a inatividade dessa mão de obra de alto potencial pode gerar consequências adversas na vida dos próprios indivíduos e na economia do país em que residem. Tendo em vista a importância do tema e a elevada representatividade deste grupo na população brasileira, analisaremos os principais indicadores de mercado de trabalho nas regiões brasileiras para o grupo de jovens.
De acordo com os microdados do 1º tri de 2024 da PNAD Contínua, disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem cerca de 48 milhões de jovens com idade entre 15 e 29 anos e estes correspondem a 27,4% da população brasileira em idade para trabalhar[1]. Há doze anos, no 1º tri de 2012, este grupo era ainda maior e representava 33,8% da PIA. O principal fator associado a esta perda de participação ao longo do tempo é a transição demográfica pela qual o Brasil tem passado.
O primeiro desafio dos jovens no mercado de trabalho está relacionado a decisão de participar da força de trabalho. Embora a participação possa ocorrer de duas formas, trabalhando (ocupado) ou buscando por um emprego (caso esteja desocupado), a decisão em participar é influenciada por uma série de fatores associados às questões socioeconômicas, tais como rendimento domiciliar, composição familiar, oportunidades locais, escolaridade, dentre outros.
O Gráfico 1 mostra que no 1º tri de 2024 a taxa de participação dos jovens brasileiros com idade entre 15 e 29 anos foi de 63,8%, ou seja, 1,4 p.p. abaixo do observado no período pré-pandemia (4º tri de 2019), mas ainda foi acima da taxa agregada para pessoas de 14 anos ou mais (61,9%). As menores taxas de participação para esse grupo etário foram registradas no Norte (55,1%) e no Nordeste (54,0%). Além disso, os valores de ambas as regiões permanecem inferiores aos reportados ao final de 2019, quando as regiões Norte e Norte registraram taxas de 55,5% e 55,2%, respectivamente. No Sudeste, a taxa de participação dos jovens no 1º tri deste ano (68,4%) também ficou abaixo daquela observada no 4º tri de 2019 (71,2%).
Já as regiões Sul e Centro-Oeste registraram taxas superiores aos patamares do 4º tri de 2019 e continuaram sendo as duas regiões com as maiores taxas de participação de jovens de 15 e 29 anos no mercado de trabalho. As taxas de participação dessas duas regiões no 1º tri de 2024 foi de 72,8% e 69,6%, respectivamente.
Vale ressaltar que os subgrupos dentro da faixa etária 15-29 anos apresentam padrões diferentes. A taxa de participação de jovens com idade entre 15 e 17 anos, por exemplo, tende a ser mais baixa do que a dos demais grupos, dado que nesta fase da vida a maioria dos adolescentes apenas estuda, ou seja, está fora da força de trabalho. Já entre os que tem entre 18 e 24 anos, com a finalização do ciclo básico de estudo, a participação no mercado tende a ser um pouco maior, pois uma parte tende a buscar por um emprego e/ou ingressar no ensino superior. Entre os de 25 a 29 anos espera-se que a maior parte já esteja participando do mercado de trabalho, com emprego, e uma minoria ainda estude e trabalhe.[2]
Considerando os que estão na força de trabalho, observa-se que a taxa de desemprego dos jovens de 15 a 29 anos no Brasil foi de 14,2% no 1º tri de 2024. Embora a taxa esteja em dois dígitos, o indicador apresentou uma melhora quando comparado ao último trimestre de 2019 (19,9%). No 1º tri de 2024 o Nordeste foi a região que registrou a maior taxa de desemprego entre jovens dessa faixa etária, com 19,7%, e as menores taxa foram reportadas no Sul (9,0%) e no Centro Oeste (11,2%).
Ao desagregar por subfaixas etárias, observa-se que a incidência do desemprego é maior entre os jovens com idade entre 15 e 17 anos, seguido pela faixa de 18 a 24 anos e, posteriormente, pela de 25 a 29 anos. A medida em que os adolescentes crescem e migram para faixas etárias mais elevadas, há uma maior propensão de acumulação de capital humano (educação e experiência) que, por sua vez, reduz os desafios para conseguir o emprego. Por isso, a idade tende a ser negativamente correlacionada com desemprego, ou seja, quanto mais elevado grupo etário, menor a ocorrência de desemprego.
Nota-se também que as taxas de desemprego no Nordeste, independente da faixa etária analisada, são maiores do que nas demais regiões e no Brasil. Entre os jovens de 18 a 24 anos que estavam na força de trabalho Nordestina no 1º tri de 2024, quase ¼ (23,7%) estavam buscando emprego. Essa taxa foi muito superior as observadas no Sul (10,1%), Centro Oeste (13,3%), Sudeste (16%) e Norte (17,2%). É importante notar que a baixa taxa de desemprego entre jovens de 15 a 17 anos no Norte se deve ao fato de que nesta região a maior parte dos adolescentes não oferta sua mão de obra no mercado de trabalho.
O trade-off entre trabalho e estudo acontece de forma mais intensa para o grupo etário de 18 a 24 anos. Nessa fase da vida, a entrada na universidade pode postergar a inserção do jovem no mercado de trabalho, mas aumenta as suas chances de ter um emprego melhor após alguns anos. Por outro lado, o jovem que opta apenas por trabalhar compromete suas oportunidades e ganhos salariais futuros, pois em um mercado de trabalho com intensas transformações e absorção de novas tecnologias, a qualificação se torna imprescindível.
Os desafios também se apresentam para aqueles que buscam uma conciliação entre trabalho e estudo. Centenas de jovens brasileiros possuem condições socioeconômicas que não os permitem apenas estudar e/ou compreendem que apenas trabalhar sem se qualificar pode comprometer a longo prazo sua renda. A necessidade de trabalhar, a baixa escolaridade e a pouca experiência influenciam diretamente o tipo e a qualidade dos postos de trabalho dos jovens empregados
Conforme mostra a Tabela 1, a atuação dos jovens trabalhadores com idade entre 18 e 24 anos é altamente concentrada em atividades dos setores de serviços e comércio. Observa-se que a metade dos jovens de 18 a 24 anos trabalham em apenas 20 ocupações.
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[1] A definição mais abrangente considera como jovens aquelas pessoas com idade entre 15 e 29 anos. Outras consideram pessoas com idade entre 15 e 24 anos.
[2] Recentemente o IBGE divulgou um módulo anual de Educação da PNAD Contínua que analisa, dentre outros temas, a condição de estudo e ocupação das pessoas de 15 a 29 anos de idade. Os dados mostram que no Brasil, em 2023, havia 48,5 milhões de pessoas de 15 a 29 anos de idade e 15,3% delas estavam ocupadas e estudando, 19,8% não estavam ocupadas nem estudando, 25,5% não estavam ocupadas, porém estudavam e 39,4% estavam ocupadas e não estudavam. Além disso, cerca de 25,6% das mulheres não estavam ocupadas, nem estudando ou se qualificando, enquanto 14,2% dos homens estavam nessa condição. Por outro lado, a proporção dos homens que apenas trabalhavam (47,3%) superava a das mulheres (31,3%) nessa condição. Os dados podem ser acessados através do link: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/39531-uma-em-cada-quatro-mulheres-de-15-a-29-anos-nao-estudava-e-nem-estava-ocupada-em-2023
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