Brasil lidera desinformação sobre autismo com crescimento de 15.000% em cinco anos
Pesquisa inédita da FGV, em parceria com a associação Autistas Brasil, analisou mais de 60 milhões de mensagens no Telegram e identificou 150 falsas causas e curas do Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Um estudo conduzido pelo Laboratório de Estudos sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas (DesinfoPop/CEAPG/FGV), em parceria com a associação Autistas Brasil, revelou que o volume de desinformação sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas comunidades digitais da América Latina e do Caribe cresceu mais de 15.000% entre 2019 e 2024. O Brasil aparece como líder no continente em publicações conspiratórias sobre o tema.
A pesquisa analisou mais de 60 milhões de mensagens públicas no Telegram, com participação de cerca de 5 milhões de usuários em 19 países. Foram identificadas 150 falsas causas e 150 falsas curas relacionadas ao autismo. Entre os conteúdos mais alarmantes estão alegações infundadas que atribuem o autismo a fatores como consumo de salgadinhos industrializados, radiação 5G e vacinas, além da promoção de “curas” perigosas, como uso de substâncias tóxicas (como dióxido de cloro), terapias com eletrochoque e ingestão de prata coloidal.
De acordo com os dados, teorias conspiratórias sobre o TEA atingiram ao menos 4 milhões de usuários, totalizando cerca de 100 milhões de visualizações em um período de 10 anos. O Brasil concentrou 46% de todo esse conteúdo, com mais de 22 mil publicações e 13,9 milhões de visualizações. Argentina, México, Venezuela e Colômbia aparecem na sequência.
“Estamos diante de uma epidemia digital. Curas milagrosas e teorias absurdas têm mais alcance do que a ciência. Isso coloca vidas em risco e transforma a desinformação em um modelo de negócio”, alerta Ergon Cugler, coordenador do estudo, autista e membro do DesinfoPop e da diretoria da Autistas Brasil.
O estudo também destaca como comunidades conspiratórias no Telegram funcionam como “seitas digitais”, misturando linguagem pseudocientífica, negacionismo, espiritualidade e teorias da conspiração. “O mais grave é que, nessas bolhas, o autismo é tratado como algo a ser combatido ou curado, reforçando preconceitos e estimulando práticas prejudiciais à saúde pública”, afirma Cugler.
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