Administração

Engajamento no trabalho cai ao menor nível da série histórica e gera perda anual de R$ 77 bilhões 

Pesquisa Engaja S/A, feita pela Flash em parceria com a FGV EAESP, aponta queda para 39% de engajamento, piora na saúde mental e retração significativa entre lideranças 

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uma mulher em destaque aborrecida no ambiente de trabalho

O engajamento dos trabalhadores brasileiros recuou ao menor patamar desde o início da série histórica do Engaja S/A: apenas 39% dos profissionais se dizem engajados — queda de cinco pontos percentuais em relação a 2024. A terceira edição do estudo, conduzida pela Flash em parceria com a FGV EAESP e com apoio da TotalPass, Maturi, Cia de Talentos e Talenses Group, entrevistou 5.397 pessoas de todas as regiões do país entre junho e agosto de 2025. O painel amostral segue o perfil da RAIS 2023: 61% dos respondentes não têm ensino superior, 54% recebem entre 1 e 3 salários mínimos e 42% trabalham em micro, pequenas e médias empresas. 

Um dos achados inéditos da pesquisa é a mensuração do custo econômico do desengajamento: a combinação de turnover e presenteísmo gera perdas estimadas em R$ 77 bilhões por ano — cerca de 0,66% do PIB. Do total, a rotatividade responde pela maior fatia, estimada em aproximadamente R$ 71 bilhões, enquanto o presenteísmo representa cerca de R$ 6,3 bilhões em perdas anuais. Metade dos profissionais desengajados relata perder até duas horas de produtividade por dia por falta de motivação. 

“Embora a remuneração seja relevante, ela não compensa deficiência no clima organizacional nem na qualidade da gestão. Relações de confiança, oportunidades de desenvolvimento e ambiente saudável continuam sendo os principais determinantes do engajamento”, afirma Renato Souza, professor de recursos humanos da FGV EAESP e coautor do estudo. 

Turnover e intenções de saída 

Em 2025, 60% dos pesquisados disseram ter pensado em pedir demissão com alguma frequência (queda de seis pontos ante 2024). A intenção se refletiu em ações: 64% candidataram-se a vagas e 42% participaram de entrevistas no período. Entre os engajados, só 8% relatam pensar frequentemente em sair; entre os ativamente desengajados, esse índice chega a 60% — diferença que explica parte do impacto financeiro do turnover. 

Crise nas lideranças 

 
O relatório aponta um recuo preocupante no engajamento das lideranças: entre executivos, o índice caiu de 72% para 65% em um ano — a maior retração por hierarquia — e a gerência média passou de 54% para 49%. Sintomas de exaustão também são mais prevalentes nesse grupo: 25% dos executivos relatam ansiedade diária e 21% insônia. O desengajamento na alta liderança é especialmente oneroso: o custo médio anual de um executivo desengajado é estimado em R$ 72,4 mil, contra R$ 8,9 mil por gerente e R$ 561 por colaborador. 

Saúde mental e gerações 

 
A pesquisa mapeou a relação entre saúde emocional e motivação: cerca de 1 em cada 5 trabalhadores convive diariamente com ansiedade, insônia ou fadiga — incidência três vezes maior entre os ativamente desengajados. Entre gerações, a Geração Z apresenta maior vulnerabilidade: 25% relatam ansiedade diária, contra 7% dos Baby Boomers, que também registram o maior nível de engajamento (45%). 

Descanso, jornada e engajamento 

 
Medidas de descanso e equilíbrio mostram associação positiva com engajamento: trabalhadores em modelo de semana de quatro dias alcançam 53% de engajamento (14 pontos acima da média). Em contraste, quem trabalha em escalas 6x1 e 12x36 registra engajamento mais baixo (40% e 36%, respectivamente) e índices elevados de ansiedade, insônia e fadiga — especialmente na 12x36, em que 23% relatam ansiedade diária. 

Vínculos pessoais e práticas de gestão 

 
Contexto familiar e senso de propósito influenciam o envolvimento: casados apresentam 44% de engajamento, contra 33% dos solteiros; pais e mães alcançam 45% frente a 30% entre quem não tem filhos. Entre as dimensões que mais impactam o engajamento em 2025, Boas Práticas de Gestão superou Confiança na Liderança, indicando preferência por processos claros e previsíveis num ambiente corporativo volátil. 

As três práticas com maior efeito sobre o engajamento, segundo o Engaja S/A, são: modelo remoto ou híbrido, day off de aniversário e benefícios flexíveis — práticas que, contudo, ainda não estão difundidas, enquanto empresas priorizam treinamentos e avaliações de desempenho, apontadas como de baixo impacto sobre a motivação. 

O estudo reforça a necessidade de políticas organizacionais e públicas que considerem saúde mental, formato de jornada e qualidade da gestão como pilares para reduzir custos socioeconômicos e recuperar níveis de engajamento.