Estudo avalia contribuição do Empreendedorismo Social para resolução de problemas habitacionais  

"O artigo busca pensar como podemos integrar mais as soluções, para resolver um problema que é gigante quando falamos de habitação do Brasil," comenta um dos autores do artigo, Edgard Barki.
Políticas Públicas
15 Setembro 2022
Estudo avalia contribuição do Empreendedorismo Social para resolução de problemas habitacionais  

O artigo “Alicerces para negócios de impacto em habitação” apresenta uma visão sistêmica sobre problemas habitacionais decorrentes da falta de recursos e discute como o empreendedorismo social pode avançar em soluções para atender às demandas sociais na área. A pesquisa discute como o empreendedorismo social pode atuar para mitigar a falta de acesso da população de baixa renda à moradia adequada. 

Desenvolvido pelos professores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP) Edgard Barki e Tânia Veludo-de-Oliveira; ao lado das doutorandas Adriana Guedes Arcuri, Fabrícia Peixoto; e a mestre Ana Tereza Delapedra, a pesquisa, publicada na revista GV Executivo, auxilia gestores a compreender de forma pragmática como atuar com inovação e propósito na área habitacional. 

A contribuição do artigo está em mostrar, de modo original e pioneiro, como é possível inovar para procurar atender ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS 11), por meio de negócios de impacto, somando esforços em prol do direito à moradia digna e complementando as iniciativas governamentais e privadas tradicionais. Além disso, o estudo traz uma reflexão sobre os desafios e caminhos para o futuro do empreendedorismo social na área habitacional. 

Quando se fala em impactos, segundo Edgard Barki, a ideia é pensar em como é possível ter negócios que tenham um modelo tradicional, mas que busquem solucionar alguns gaps que o Estado e organizações da sociedade civil não conseguem atender.  Nesse contexto, o artigo traz três casos que são exemplos de negócios que tentam resolver o problema da habitação em determinadas dimensões em reformas, regularização fundiária e energia solar.  

“Individualmente, é inegável que eles têm impacto e, mudam a vida dessas pessoas beneficiadas pelos projetos. O artigo busca pensar como podemos integrar mais as soluções, para resolver um problema que é gigante quando falamos de habitação do Brasil,” analisa Edgard. 

Problemas de habitação  
 

A precariedade habitacional está conectada a várias problemáticas, dentre as quais: ocupação ilegal de terras, construção de moradias improvisadas e falta de acesso a serviços básicos como água e energia. 

Em relação à primeira problemática, os programas de habitação de interesse social não conseguem suprir a demanda por moradia, contribuindo para a ocupação ilegal de terras. 

Muitas famílias começam a vida ocupando ilegalmente um terreno, sem ter condições básicas para moradia. Embora estejam em áreas urbanas, estão em locais que o poder institucional não legisla e isso traz consequências para essa população, pois tem seus direitos básicos diretamente associados à moradia digna negados, e ainda correm o risco de o poder público decretar a reintegração de posse e o despejo dessas famílias. 

A regularização é, portanto, o alicerce para a melhoria na vida das pessoas e para uma mudança de perspectiva, pois oferece cidadania e pertencimento social, permitindo com isso que a população alce novos sonhos e possibilidades. A regularização fundiária tem impactos profundos no curto e no longo prazo, e a falta dela é considerada um importante inibidor do desenvolvimento de países emergentes. 

Em relação à segunda problemática, viver sem acesso à infraestrutura básica, como rede de esgoto, e em uma casa improvisada, com um único cômodo com paredes de madeira, afeta a autoestima dos moradores. Posse e acesso a bens e serviços são sinônimos de sucesso, status e felicidade na sociedade atual. 

Por fim, sobre a terceira questão, a população que constrói suas moradias em áreas irregulares acaba obtendo acesso a serviços básicos essenciais, como água e energia, mediante práticas ilegais conhecidas por gatos, que consistem na utilização desses serviços por meio de ligações clandestinas feitas diretamente da rede pública. 

Empreendedorismo na área de habitação  
 

O empreendedorismo social usa lógicas de mercado para resolver problemas sociais, em setores como  educação,  saúde,  serviços  financeiros  e  inclusão  produtiva.  A área de habitação vem recebendo atenção com investimentos relevantes de empresas, fundações e institutos familiares.  

Segundo Edgard, quando se fala em negócios ou políticas públicas, é preciso analisar em como impactar mais pessoas e como escalar os propósitos. No campo acadêmico, há três formas de escalar, que podem se complementar: Scale out, Scale deep, Scale up. 

Scale up 
 

O Scale up tange a ampliação do alcance de um negócio, por meio de influência na  legislação,  e  nas  políticas públicas, para que a questão não fique apenas no escopo do negócio, mas em um  âmbito da sociedade civil. Como exemplo, o grupo Terra Nova, fundado em 2001 para trabalhar com regularização fundiária, adotou o conceito de desenvolvimento sustentável.  

A companhia já homologou 38 acordos de regularização fundiária, participou da elaboração de projetos de lei nas esferas federal, estadual e municipal e contribuiu com iniciativas dos estados de São Paulo e Paraná para a solução de problemas fundiários. A organização foi citada como exemplo, pois teve a pretensão de mudar as políticas públicas, ou seja, não atuou isoladamente, mas com a participação do Estado.  

Scale out  
 

O objetivo do Scale out é atingir mais pessoas em termos de escala. Como exemplo o caso do empreendimento Vivenda se destaca realizando reformas nas casas da população de baixa renda. 

Em 2021, a Vivenda mudou seu modelo de reformas residenciais para uma tecnologia social, a Nova Vivenda, criando uma plataforma em que várias outras organizações podem oferecer serviços em todo o Brasil.  

Scale deep  
 

O Scale deep baseia-se na capacidade de mudança de comportamento. No que ela é atingida, pode ser considerado um modelo mais complexo.  Um exemplo é o caso da Revolusolar, pioneira na criação de cooperativas de energia solar em comunidades. Trabalham não apenas com a energia, mas com a educação da população para que possam transformar a matriz energética da comunidade, ou seja, mudando a cultura da comunidade para pensar sobre as questões ambientais.  

Uma visão de futuro 
 

A moradia de qualidade é uma questão social básica, e sua falta acentua a desigualdade social existente no Brasil. A solução do déficit habitacional é complexa e exige a atuação do governo, de empresas e da sociedade civil. Um dos caminhos é o empreendedorismo social, que busca oferecer soluções por meio de mecanismos de mercado para a população vulnerável. 

O desafio para o futuro do empreendedorismo social na área habitacional consiste em trabalhar em uma lógica de solução holística e desenvolvimento local em vez de intervenções separadas. 

Para os pesquisadores, a resposta para o problema habitacional não é simples e depende de uma articulação entre fundações, institutos, empresas e Estado.  É preciso repensar os processos de solução com maior sinergia, articulação e cocriação com a própria população beneficiária, a quem não é apenas negado acessos, mas a própria voz. 

Para ter acesso ao artigo completo, clique no link

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