Novo centro de pesquisa da FGV vai apoiar a criação do Plano Nacional de Transição Energética
“Uma política nacional que nasce junto ao FGV Clima”, caracterizou o secretário de Transição Energética e Planejamento do Ministério de Minas e Energia (MME), Thiago Barral, ao mencionar o Plano Nacional de Transição Energética (PLANTE) no evento de apresentação do novo centro de pesquisa aplicada da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP). O evento, que ocorreu no dia 2 de setembro, contou com a presença de representantes do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), MME e do Instituto Clima e Sociedade (iCS), que debateram sobre a Crise Climática.
Em um dos primeiros projetos, o FGV Clima vai produzir diagnósticos técnicos, para consolidar o conhecimento científico sobre cinco setores-chave da transição energética, com o objetivo de apoiar o desenho do plano de ações estratégicas do MME. Durante a abertura do evento, a Coordenadora Executiva e Cofundadora do FGV Clima, Amanda Schutze, explicou que o novo centro tem a missão de fortalecer a ação climática brasileira e impulsionar o desenvolvimento socioeconômico do país de forma justa e sustentável.
“Iremos focar em produção de conhecimento e disseminação para utilizar as ferramentas teóricas e empíricas de economia a fim de produzir conhecimento técnico e disseminar esse conhecimento por meio do engajamento com a sociedade: formuladores de políticas públicas, setor privado, sociedade civil e a mídia. É muito importante que a gente passe a informação da forma mais clara e acessível, no intuito de fortalecer a ação climática no Brasil baseada em evidências científicas”, introduziu Schutze.
De acordo com a Coordenadora Científica e Cofundadora do FGV Clima, Clarissa Gandour, para alcançar a missão de fortalecer a ação climática no país, o Centro vai desenvolver pesquisas sobre Economia do Clima e posicionar a ciência econômica para atuar a serviço da ação climática no Brasil.
“Diante dos desafios ocasionados pelas mudanças climáticas, tais como mudanças na produtividade, alteração em fluxos regulatórios, insegurança alimentar, entre outros, a Economia fornece ferramentas para orientar e informar o processo de tomada de decisão.”, discursou Gandour, ao citar William Nordhaus, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2018, que posiciona a Crise Climática como o desafio supremo para a economia.
Contribuições para o Plano de Transição Energética
Os primeiros projetos do FGV Clima surgiram com o financiamento do Instituto Clima e Sociedade (iCS), e a partir de uma parceria estratégica firmada com o MME. O Centro passa a ser um parceiro estratégico que vai atuar em duas frentes: fornecer apoio técnico e desenhar uma estratégia de comunicação e engajamento para assegurar uma transição justa e inclusiva. Os pesquisadores irão realizar estudos para elaborar um diagnóstico de transição energética em diferentes setores: energia elétrica, transporte, indústria, óleo e gás, e mineração.
Nessa abordagem setorial, o Centro considerará três eixos temáticos: Legal Regulatório; Econômico Financeiro; e Social. Durante o evento de apresentação do FGV Clima, o Secretário Nacional de Transição Energética, Thiago Barral, reiterou a importância de o tema Mudanças Climáticas estar cada vez mais presente não só na formulação de políticas públicas, mas também em toda a lógica de desenvolvimento e infraestrutura social e econômica que existe atualmente.
“Não há um caminho contrário à redução das emissões de carbono. O que era antes uma discussão apenas sobre cooperação internacional, simbolizada pelo Acordo de Paris, passa a ser também um processo competitivo sobre o posicionamento dos países nessa nova economia e nas novas cadeias de valor, considerando as mudanças na dinâmica do mercado internacional e a aceleração da inovação tecnológica”, disse Barral.
Conforme aponta o Secretário, é preciso entender como esses processos podem se traduzir em um retorno para o país, com resultados climáticos positivos:
“A reestruturação do Governo, na qual diversos planos e políticas envolvem a transição energética, já transparece que a ótica da política energética precisa estar preparada para fazer frente à política de desenvolvimento social e econômico do país. A Economia do Clima é um instrumento fundamental para trazer coerência na integração de diferentes políticas setoriais que precisam estar lastreadas em um mesmo conjunto de ações. A Fundação Getulio Vargas, através do FGV Clima, vai apoiar o desenho da arquitetura do Plano Nacional de Transição Energética, com o objetivo de agregar os conceitos científicos nas ferramentas que estão sendo construídas pelo Governo Federal”, disse o Secretário durante a apresentação.
Estratégias para o Plano Clima e oportunidades de desenvolvimento socioeconômico
Durante o debate, a Secretária Nacional de Mudança do Clima do MMA, Ana Toni, ressaltou que a mudança do clima é essencialmente um tema de desenvolvimento socioeconômico. Para a Secretária, não é possível falar sobre meio ambiente sem abordar a economia, e esse simbolismo reflete a ação conjunta do MMA com o MME e os Ministérios da Fazenda, e do Transporte.
“Estamos desenvolvendo o Plano Clima em caráter interministerial com a participação de 23 ministérios para debater tanto a mitigação dos extremos climáticos quanto adaptação climática”, disse Toni, ao alertar que o Brasil está atrasado em comparação com outros países como China, EUA e Alemanha que já posicionam não apenas o investimento para enfrentar a crise climática, mas também para gerar desenvolvimento socioeconômico.
“Como a gente transforma essa crise em uma oportunidade econômica? Se já tivéssemos um centro como o FGV Clima há alguns anos, poderíamos ter elaborado planos mais robustos que levassem em consideração não apenas a descarbonização, mas os mecanismos econômicos, mercado de carbono, taxonomia, fundos soberanos, Fundo Clima, Ecoinvest e muitos outros mecanismos que anteriormente não faziam parte do menu de instrumentos do Governo, mas que agora podem ser pesquisados e testados pelo setor acadêmico”, discursou Toni.
Representando o iCS, o Gerente de Política Climática Walter de Simoni, também defendeu a necessidade de enfrentar a crise climática através de uma abordagem transversal:
“Não estamos falando apenas de uma visão de meio ambiente. O clima saiu de um nicho específico em que há 10 anos era necessário lutar para que as pessoas entendessem que o clima era uma questão a ser discutida, e hoje a crise climática está presente na vida das pessoas. Quem não observou o aumento dos desastres climáticos? Quem não observou as ondas de calor cada vez mais frequentes? Saímos da teoria e temos a necessidade de buscar a implementação de ações para combater a crise climática”, alegou Simoni.
Pesquisas científicas para gerar impacto na sociedade
Para a Diretora da Escola de Economia de São Paulo (FGV EESP), Lilian Furquim, as mudanças climáticas simbolizam um problema complexo e sem fácil resolução. Porém, ela ressalta que o FGV Clima, ao posicionar as respostas das ciências econômicas para mensurar impactos ocasionados pela crise climática será possível contribuir para o debate público sobre ação climática.
“Muita produção acadêmica sobre este tema já existe, mas era preciso ressaltar e organizar uma iniciativa que trouxesse as respostas das ciências econômicas baseada em evidências e com instrumental próprio. Mensurar impactos, analisar grandezas e ir além das correlações para buscar o entendimento das suas casualidades, este é o principal papel do FGV Clima”, declarou a Diretora da FGV EESP.
Diante da missão da Fundação Getulio Vargas em contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil, a diretora de Pesquisa e Inovação da FGV, Goret Paulo, acredita que não é possível falar sobre esse desenvolvimento sem abordar meio ambiente e sustentabilidade.
Durante a abertura do evento, Goret introduziu o conceito de Desenvolvimento Sustentável Integrado, que agrega não apenas o desenvolvimento socioeconômico, mas também socioambiental:
“O mais simples conceito de Economia sobre produtividade precisa ser discutido à luz da sustentabilidade. Por isso, pretendemos gerar mais e mais pesquisas com impacto positivo na sociedade, principalmente em temas que são urgentes para a população, como mudanças climáticas, saúde e bem-estar, educação de qualidade, desigualdade de gênero, trabalho decente e crescimento econômico, redução das desigualdades, cidades e comunidades sustentáveis, além de paz, justiça e instituições eficazes”, apontou Goret ao apresentar a contribuição da FGV para implementar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) da ONU.
Para conferir o evento de apresentação do FGV Clima na íntegra, clique aqui.
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