Pesquisa da FGV aponta que mulheres ainda ocupam poucos cargos de alta direção no Brasil

A proporção de mulheres nos altos escalões das companhias com presença no Brasil é de apenas de 8%. E apesar do destaque alcançado por algumas executivas de grandes empresas, nos últimos 15 anos este percentual praticamente não mudou. É o que mostra estudo produzido pelo Grupo de Pesquisas de Direito e Gênero da Escola de Direito da FGV em São Paulo (DIREITO GV).
Os dados foram apresentados em evento que aconteceu na DIREITO GV, com a presença de representantes de Conselhos de Administração, executivas e especialistas ? com destaque para a jornalista Ana Paula Padrão, que vem se dedicando ao lançamento de empreendimentos voltados para a análise do mercado para a mulher executiva. O diretor da DIREITO GV, Oscar Vilhena Vieira, abriu o evento.
De acordo com o estudo, as principais razões que explicariam a fraca presença feminina nas diretorias das empresas são o preconceito e a falta de estrutura institucional oferecida (creches, babás, maior licença paternidade) pela empresa, que, na maioria das vezes, não oferece à mulher a assistência necessária para que ela consiga tocar a vida profissional e pessoal simultaneamente, principalmente em relação ao cuidado com os filhos e a família.
?Fica cada vez mais difícil para a mulher que não possui recursos como babá ou creche galgar degraus na carreira. Muitas que ainda estão no começo da carreira ficam divididas, pensando se irão cuidar dos filhos ou deixar o trabalho, pois, geralmente, o marido ganha mais. Já na outra ponta, vemos que as poucas executivas que temos deixam para ser mães tarde. Muitas nem casam. É injusto elas terem que escolher entre uma coisa e outra sendo que os homens não precisam fazer esse tipo de opção?, ressalta Ângela Donaggio, que faz parte do grupo de estudos de gênero junto às pesquisadoras Ligia Paula Pires Sica e Luciana Ramos, da DIREITO GV, e o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, Alexandre Di Miceli.
?Essa sub-representação das mulheres no topo é muito maior do que as pessoas pensam que é. As pessoas têm uma visão falaciosa da realidade, algo que reflete um pouco do que a mídia mostra. Vemos poucas executivas nos holofotes como se isso estivesse se tornando regra, mas, na verdade, é a exceção?, explica Ângela.
Detalhes da pesquisa mostram ainda que, de 1997 a 2012, quase metade das companhias (48%) não apresentaram ao menos uma mulher em seu conselho de administração e 2/3 (66,5%) não tinham sequer uma mulher na diretoria executiva, apesar da maior escolaridade das mulheres.
Para Lígia Sica, coordenadora do grupo de estudos de gênero da Escola, muitas vezes existe uma barreira para admitir a primeira mulher nesses postos. ?Depois que isso ocorre, o caminho para as que vêm depois fica mais fácil?, explica.
A pesquisa foi realizada a partir da análise de mais de 73 mil cargos de 837 diferentes empresas de capital aberto no país.
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