Por que fusões e aquisições fracassam no Brasil? Estudo revela principais causas de impairment
Com a pandemia de COVID-19, muitas operações antes rentáveis se tornaram deficitárias, colocando em evidência a fragilidade das previsões em cenários de incerteza global.

Quando a estratégia vence a técnica, o resultado são perdas bilionárias. A resposta do porquê tantas fusões e aquisições no Brasil fracassam pode estar na tendência dos acionistas de ignorarem alertas técnicos, em favor de decisões estratégicas subjetivas. Essa é a principal conclusão da dissertação de Edson Hildebrant, mestre em Gestão Empresarial, pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE), que investigou os fatores por trás das perdas de valor (impairment) no mercado brasileiro de M&A.
Edson explorou, em sua dissertação, os complexos fatores que levam ao fracasso de fusões e aquisições no Brasil, com foco especial nas perdas de valor, também conhecidas como impairment.
Seu estudo revelou que muitos acionistas, ao se depararem com um consultor de compra contrário à sua tese de investimento, optam pela compra devido a decisões estratégicas, mesmo quando essas sugestões não são tecnicamente viáveis.
Com base em entrevistas com executivos e na análise de casos reais, o pesquisador identificou que as compras orientadas por fatores estratégicos subjetivos frequentemente se revelam prejudiciais. “Embora os consultores de compra muitas vezes alertem para a falha nas teses de investimento, a decisão de prosseguir com a fusão ou aquisição por uma questão estratégica pode resultar em prejuízos consideráveis a médio e longo prazo", explicou Hildebrant. "Em muitos casos, as compras que pareciam promissoras acabaram gerando grandes perdas devido ao impairment", acrescenta.
O estudo identificou, ainda, que fatores externos, como crises econômicas, podem alterar drasticamente a viabilidade de uma fusão. Até 2020, esses fatores eram amplamente ignorados nas análises de viabilidade. No entanto, com a pandemia de COVID-19, muitas operações antes rentáveis se tornaram deficitárias, colocando em evidência a fragilidade das previsões em cenários de incerteza global.
Além disso, Edson ressaltou a importância da due diligence, o processo de auditoria das empresas antes da aquisição, e de uma avaliação mais profunda das teses de investimento. "Muitas vezes, aspectos pouco visíveis durante a análise inicial, os chamados fatores 'obscuros', não foram identificados a tempo", afirma. Esses fatores podem incluir problemas internos nas empresas adquiridas ou a falha em antecipar mudanças no mercado que afetam diretamente o retorno sobre o investimento.
Ao longo da pesquisa, o ex-aluno defendeu que decisões estratégicas devem ser alinhadas a uma análise mais rigorosa, com uma atenção especial ao risco de impairments futuros. Sua dissertação oferece uma contribuição importante para profissionais do mercado de fusões e aquisições, ao sugerir que as empresas precisam de abordagens mais sólidas e estratégias de governança para evitar perdas financeiras substanciais.
O trabalho é um alerta para as empresas que ainda subestimam a complexidade envolvida em fusões e aquisições e reforça a necessidade de um olhar crítico e fundamentado para todas as variáveis envolvidas.
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