ChatGPT nas escolas: usar ou banir?

Se os estudantes utilizam o ChatGPT para responder perguntas e realizar trabalhos que foram passados pelos professores, esse é um excelente momento para uma verdadeira revolução no modo como se avalia o aprendizado dos educandos.

Comunicação
27/02/2023
Luísa Vilardi

Alvo de muitas discussões recentes no campo da educação, o ChatGPT, criado pela OpenAI  (hospedado online de graça, para qualquer um usar), é um programa de computador projetado para simular conversas com usuários humanos. Sendo assim, o ChatGPT, como o próprio nome sugere, é uma ferramenta de conversa na forma de bate-papo na qual o usuário (humano) insere perguntas ou informações sobre as quais deseja explicação e, em questões de segundos, recebe uma resposta. Esse rápido tempo de resposta acontece porque o ChatGPT foi programado para usar bancos de dados de texto da internet. Isso inclui milhares de dados obtidos de livros, textos da web, Wikipedia, artigos e outros textos na rede mundial de computadores.

Examinando por esse lado, o ChatGPT é uma ferramenta muito prática, interessante e rápida para o cotidiano da sociedade contemporânea que, em grande medida, envolve múltiplas tarefas para serem feitas em um curto espaço de tempo. Mas quando o foco sobre o ChatGPT recai sobre seu uso nas escolas, temos mais discordâncias do que consensos. Isso porque, como qualquer novidade, o ChatGPT ainda é visto com muita desconfiança pelos profissionais da educação. Tais desconfianças advém, principalmente, do fato de os estudantes estarem utilizando essa ferramenta para realização de trabalhos e lições de casa e as endereçando como se fossem de sua autoria.

Por conta disso, muitas escolas públicas americanas bloquearam o acesso ao site nos computadores das escolas alegando preocupações com impactos negativos na aprendizagem dos alunos e com a segurança e precisão do conteúdo. Porém, seria essa a alternativa mais interessante? O que alguns artigos e reportagens têm mostrado é que não. Isso  porque é inviável que essa proibição perdure, já que os estudantes podem acessar o site de outras formas por meio de celulares, computadores e tablets pessoais, por exemplo. Além disso, é muito provável que banir o uso do ChatGPT nos computadores das escolas públicas prejudique os alunos mais vulneráveis os quais, muitas vezes, somente têm acesso ao computador no espaço da escola.

A despeito do uso do ChatGPT para trapacear nos trabalhos e nas lições de casa ser real  (há vários relatos na internet sobre isso), é necessário aprender a absorver essa inteligência artificial (IA) no cotidiano das escolas. Por isso, compreender suas fragilidades e pontos de estrangulamento são fundamentais para repensar e reutilizar essa ferramenta na Educação. Se os estudantes utilizam o ChatGPT para responder perguntas e realizar trabalhos que foram passados pelos professores, esse é um excelente momento para uma verdadeira revolução no modo como se avalia o aprendizado dos educandos. Algumas alternativas, por exemplo, poderiam ser a realização de trabalhos coletivos na sala de aula e entre as turmas na escola, a realização de exames orais, o incentivo à escrita e a capacidade crítica dos estudantes mediante um texto produzido pelo próprio ChatGPT. Porque ainda que o ChatGPT possa produzir um texto coeso, coerente e de qualidade, o aspecto da criticidade não está presente.

Contudo, vale reforçar que para que essa revolução aconteça é fundamental que lideranças educacionais estejam abertas ao diálogo e a formações continuadas para entenderem melhor o funcionamento do ChatGPT e poder repensar junto à rede educacional e comunidade escolar qual a melhor forma de proceder com o seu uso. Conforme a Pandemia nos ensinou muito bem, o negacionismo nunca é o melhor caminho, por isso entre usar ou banir o ChatGPT a melhor alternativa é sempre usar com cautela e como uma alavanca para repensarmos o que tem sido feito até o momento. 

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional da FGV.

Autor(es)

  • Luísa Vilardi

    Coordenadora de Desenvolvimento de Líderes Educacionais do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (FGV CEIPE) da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE). É doutora em Educação pela PUC-Rio, mestra em Educação em Ciências e Saúde pela UFRJ e licenciada em Pedagogia e Ciências Biológicas. Pesquisadora colaboradora do Grupo de Pesquisa Gestão e Qualidade da Educação (GESQ/PUC-Rio) com interesse nos temas de gestão, liderança, políticas públicas e avaliação educacional.

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