Clube-empresa exige mais profissionalismo no futebol
O futebol profissional se transformou em um negócio de bilhões e não pode mais continuar sendo administrado por estruturas criadas para contar tostões. Associações sem fins lucrativos não têm a menor condição para desenvolver negócios em sua plenitude.
Onde tudo é de todos, nada é de ninguém!
Nos países onde o futebol é bem desenvolvido, há unanimidade: em regra, associação sem fins lucrativos não serve para gestão de futebol profissional. Exemplos como Inglaterra, França, Espanha, Itália, Portugal e Estados Unidos, onde a esmagadora maioria dos clubes é empresa, evidenciam isso.
Mesmo nos países em que a lei que obriga clubes a se organizarem como empresas prevê exceção para associações com resultado operacional positivo, todos pagam impostos e a diretoria é obrigada a prestar garantia financeira, colocando seu patrimônio pessoal em jogo, como se fossem os donos de uma empresa.
O Brasil paga caro pela ineficiência sistêmica do futebol profissional.
A isenção de Imposto de Renda para associações civis sem fins lucrativos, que hoje exercem atividade eminentemente empresarial, tem reflexos em toda base de contribuintes, que acaba pagando mais.
Além disso, há uma onda de investimento global no futebol e o Brasil está de fora.
O grupo de Abu Dhabi que investiu no Manchester City já tem vários clubes espalhados pelo mundo, um no Uruguai, nada no Brasil. Um terço do capital dos times europeus pertence a chineses e um terço a americanos. Na Inglaterra, mais da metade dos times da primeira e da segunda divisão está nas mãos de estrangeiros.
Hoje, até mesmo investidores brasileiros preferem investir no exterior, como é o caso do Ronaldo, no Valladolid, e do Flávio Augusto, no Orlando City. É globalização de mão única. Será que ninguém percebe que o Brasil está perdendo o bonde da história?
O futebol nacional tem tudo para ser um bom investimento, mas, no modelo associativo atual, não há sequer instrumento jurídico para isso. O potencial é enorme: além da simples melhora na gestão, entre os dez maiores campeonatos do mundo, o Brasil é o único em que clubes ainda não organizaram ligas.
Outro ponto importante é o mercado externo. O Brasil é o maior exportador de jogadores do mundo. Receitas em dólar, custos em reais.
Há também o Projeto de Lei aprovado na Câmara dos Deputados para criar condições favoráveis ao investimento empresarial nos clubes. O projeto se insere no conjunto das novas políticas econômicas e reformas que o Congresso Nacional vem implementando e que já mostra resultado: a taxa de crescimento do PIB subindo 1% nos últimos trimestres e a menor Selic da história, incentivando investimentos alternativos e mais ousados para maior rentabilidade.
O momento não poderia ser melhor para investidores no futebol brasileiro. Um choque de gestão e governança nos clubes tem tudo para refletir positivamente em todo arranjo produtivo nacional.
Numa empresa o patrimônio dos sócios responde pelas falhas da gestão. Esse é o maior incentivo para eficiência. Se o gestor de uma empresa não vai bem, demite-se. Se o presidente de um clube não vai bem, é preciso esperar anos para trocar.
Clubes associativos falidos continuam a existir e empresas correm risco de falir de verdade. Haveria incentivo maior para mais responsabilidade na gestão? E se falir, outro investidor que compre o que tiver interesse na massa falida e toque adiante.
Nesse horizonte, a FGV reconhece demanda cada vez maior por quadros competentes, bem formados e bem qualificados para trabalhar no esporte. O Programa Executivo FGV/FIFA/CIES em Gestão de Esporte responde a esta demanda e reafirma o compromisso da FGV com o desenvolvimento nacional, reforçando sua vocação para formação de profissionais do mais alto nível, contribuindo para melhorar toda cadeia produtiva do esporte brasileiro, impulsionando um ciclo virtuoso capaz de gerar cada vez mais riqueza, emprego e renda no país.