A COVID-19 ainda está entre nós, mas a vida precisa continuar

Uma das áreas mais afetadas durante esses cerca de 20 meses foi, certamente, a educação.

Políticas Públicas
16/11/2021
Ana Maria Malik
Gonzalo Vecina Neto

Quase dois anos desde os primeiros casos de Covid-19, depois de muitas opiniões baseadas em crenças e impressões, após medidas diferentes tomadas pelo mundo e, agora, em novembro de 2021, com mais de 5 milhões de mortes, finalmente há algum conhecimento, embora ainda com muitas dúvidas, sobre a doença, seu tratamento e vacinas, numa realidade muito diferente da existente em janeiro de 2020. Entre as consequências não ligadas à saúde/doença, pelo mundo, estão problemas na economia de diversos países, tendo em vista medidas de restrição de mobilidade e interrupção de atividades econômicas, o aprendizado a respeito da vida e do trabalho online (já esperado, mas seguramente muito apressado pelas circunstâncias globais) e uma mudança dramática na vida das famílias, das crianças e dos jovens.

Uma das áreas mais afetadas durante esses cerca de 20 meses foi, certamente, a educação. Muitas pós-graduações já vinham sendo realizadas de maneira remota, mas, em termos de cursos de graduação, nem todas as áreas têm condição de desenvolver sua formação neste modelo. Também deve ser considerado que nem todos(as) os(as) alunos(as) têm condições semelhantes de acesso à internet ou de disponibilidade de local e de tempo para assistir aulas, concentrar-se, dedicar-se e ainda conseguir desempenhar as atividades solicitadas. Seja como for, bem ou mal, embora possivelmente com rendimento abaixo do presencial, os cursos foram caminhando. A capacitação e o treinamento de profissionais de saúde, por exemplo, sofreram também, tanto pelo distanciamento quanto pelo medo e pela insegurança quanto, ainda, pelo ineditismo de algumas formas de trabalho (presencial e/ou remoto) e dos equipamentos de proteção que tiveram que ser utilizados.

A educação primária e a secundária, porém, tiveram muito mais problemas. Muitas vezes, crianças sem maturidade para enfrentar aulas por aplicativos ou plataformas digitais, em casas sem supervisão adequada (mesmo que frequentemente na presença dos pais, que nem sempre sabem atuar), sem disciplina para passar horas diante do computador ou do celular, além de terem aprendizado aquém do desejado, ainda perderam muito nos quesitos socialização, uma vez que a escola é uma das formas pelas quais ocorrem as primeiras experiências de contato com outros, não da família.  Há estatísticas preocupantes sobre as consequências deste período de reclusão para crianças e jovens, variáveis pelo mundo.

As restrições sociais e econômicas foram levantadas pouco a pouco, também com variação entre os distintos países: restaurantes, igrejas, estádios esportivos, centros comerciais, academias, cabeleireiros, bares, cinemas passaram a ser autorizados a funcionar, bem como ocorreu a abertura de fronteiras internacionais. Junto com estas aberturas, também em ritmos variados, começou-se a liberar o turismo e as escolas. Em alguns casos o retorno era opcional; em outros, obrigatório.

No entanto, a pandemia não acabou. O vírus continua conosco. Então ainda devem continuar as precauções de distanciamento social, cumprimentos menos efusivos, lavagem frequente de mãos, máscaras em situação em que não se conhece quem são os demais ocupantes do espaço (como transporte coletivo, dos mais aos menos aglomerados, estádios e, até mesmo, escolas). Com certeza as máscaras continuam a ser obrigatórias em ambientes fechados e com baixa ventilação. A circulação de pessoas sempre oferece risco, em situações normais. Não é por outro motivo que, por exemplo, no Japão o metrô (e até mesmo as ruas) é sempre repleto de pessoas usando máscaras e seus cumprimentos habituais não são tão próximos quanto os nossos. Mesmo entre pessoas vacinadas dever-se-á ter alguma preocupação, pois ainda não há certeza quanto a se estas pessoas convivem, por exemplo, com não vacinados como crianças. E enquanto houver vírus em circulação no mundo, causando novos casos, será possível o aparecimento de novas variantes, eventualmente resistentes às vacinas existentes.

Quem tiver a oportunidade de se vacinar, não a perca. A volta ao presencial é muito aguardada, mas deve ser feita com precaução. Quando houve casos de pessoas com COVID enquanto estávamos à distância, o afastamento era dado. Com o retorno, é preciso cuidado. Não vamos dizer de quem é a frase, pois ela é atribuída a tantos autores que seria muito arriscado. Mas “O preço da liberdade é a eterna vigilância” nunca foi tão atual.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional da FGV.

Autor(es)

  • Ana Maria Malik

    Coordenadora do FGVsaúde da FGV EAESP e diretora adjunta do Programa de Estudos Avançados em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde (PROAHSA) da Fundação Getulio Vargas. Acadêmica da Academia Brasileira de Qualidade (ABQ) desde 2015. Médica pela Faculdade de Medicina da USP (1978), mestre em Administração de Empresas pela FGV (1983) e doutora em Medicina (Medicina Preventiva) pela Universidade de São Paulo (1991), professora titular da EAESP. Acadêmica eleita para a Academy of Quality and Safety in Healthcare (IAQS) desde maio 2020.

  • Gonzalo Vecina Neto

    Mestre em Administração, na área de Saúde, pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP), é consultor e professor do Mestrado Profissional em Gestão para Cometitividade (MPGC) da FGV EAESP. Graduado pela Faculdade de Medicina de Jundiaí, foi fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), ex-secretário de saúde do Município de São Paulo e ex-CEO do hospital Sirio libanês.

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