Dia Mundial da Água: Escassez hídrica e reúso são destaques

Apesar dos benefícios, o reúso de água ainda esbarra na falta de instrumentos legais consistentes e de investimentos em novas tecnologias.

Energia
22/03/2024
Juliana Picoli
Layla Lambiasi

No Brasil, são consumidos anualmente cerca de 67,32 trilhões de litros de água, sendo aproximadamente 54% destinados para irrigação, 23% para abastecimento urbano e 9% para atividades da indústria. Tais demandas tendem a crescer ao longo dos anos, ao mesmo tempo em que aumenta o risco de escassez hídrica devido ao agravamento das mudanças climáticas.

Nesse sentido, eventos extremos recentes, como as crises hídricas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, apontam que, a maior variabilidade do clima em conjunto com a presente vulnerabilidade dos sistemas de abastecimento pode afetar a geração hidrelétrica, a agricultura, a produção industrial e o fornecimento de água nas cidades.

Diante desse cenário de incerteza climática, com frequência, riscos relacionados à disponibilidade e à qualidade dos recursos hídricos ultrapassam os muros das empresas. Nesse contexto, a pegada hídrica vem se mostrando uma importante ferramenta para mensurar e gerenciar os impactos relacionados à água ao longo do ciclo de vida de um produto, considerando toda sua cadeia de valor. Essa abordagem sistêmica permite quantificar não apenas o uso direto da água, mas também seu consumo em todas as etapas, desde a extração de matérias-primas até o descarte final.

Diagnósticos como aqueles resultantes de estudos de pegada hídrica destacam a importância de práticas associadas à economia circular, como o reúso e a recirculação de água no ambiente corporativo, que proporcionam a redução do consumo, melhorias na eficiência hídrica e na qualidade da água. Apesar dos benefícios, o reúso de água ainda esbarra na falta de instrumentos legais consistentes e de investimentos em novas tecnologias.

Ações de conscientização e promoção do debate na arena pública são essenciais para o avanço da agenda, de forma a promover a gestão integrada dos recursos hídricos e a redução de riscos e impactos, além de agregar inovação e ganhos sociais para além das fronteiras organizacionais.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional da FGV.

Autor(es)

  • Juliana Picoli

    Desde 2019, integra a equipe do Centro de Estudos em Sustentabilidade (FGVces) e atualmente é gestora de projetos no Programa de Política e Economia Ambiental. Bacharel em Engenharia de Alimentos e mestre em Planejamento de Sistemas Energéticos, ambos pela Unicamp. Possui grande experiência em avaliação ambiental de produtos por meio da abordagem de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) e durante cinco anos trabalhou como consultora na Embrapa Meio Ambiente, atuando no Grupo de Trabalho de Avaliação do Ciclo de Vida do Programa Renovabio e no Projeto ICVAgroBR, em parceria com o Ecoinvent. 

  • Layla Lambiasi

    No Centro de Estudos em Sustentabilidade (FGVces), entre outros projetos, trabalhou em conjunto com a Agência Nacional de Águas (ANA) para o desenvolvimento de Análise Custo-Benefício de medidas de adaptação para o semiárido brasileiro. É bacharel em Engenheira Ambiental pela Universidade de São Paulo e mestre em ciências ambientais e desenvolvimento sustentável pela Universidade de Linkoping (Suécia). Tem experiência em projetos de consultoria relacionados às temáticas de mudança do clima, risco climático, entre outros. Atualmente, integra a equipe de pesquisa do Programa de Política e Economia Ambiental.

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