Administração

Os dilemas da Amazônia conectada

Autor
Eric Macedo
Data

Nos últimos anos, povos e comunidades tradicionais na Amazônia vêm lançando mão de drones, aplicativos de dados geoespaciais instalados em aparelhos de celular, plataformas digitais e imagens de satélite para acompanhar transformações em seus territórios. A tecnologia é usada, por exemplo, para monitorar e denunciar ameaças e pressões – como desmatamento e garimpo ilegais –, identificar impactos de projetos de infraestrutura, ou acompanhar mudanças na pesca e em outros aspectos da biodiversidade local.

Iniciativas de monitoramento vêm se desenvolvendo em diferentes escalas e com o uso de diversas metodologias, em relação estreita com práticas e conhecimentos tradicionais sobre os territórios. Quando, porém, elas recorrem à utilização de tecnologias digitais, uma coisa é certa: a conexão à internet nas comunidades é fator chave para possibilitar a sua efetividade.

Mas, como sabemos, a internet é uma selva. Ou melhor, uma selva de pedra: entre os habitantes dessa metrópole super populada, desigual e violenta, encontram-se dançarinos de TikTok e jogos de aposta viciantes, vídeos de gato no YouTube e fake news no WhatsApp. Impulsionada recentemente pela proliferação de antenas da Starlink, a empresa de internet via satélite do bilionário Elon Musk, a chegada dessa fauna virtual aos povos da floresta gera preocupações legítimas. É essencial que a inclusão digital das comunidades seja acompanhada por ações de letramento digital e de promoção do uso seguro da internet.

O mundo virtual vem concentrando a oferta de diversos serviços públicos, além de oferecer oportunidades de educação e geração de renda. Mas em áreas remotas, a internet vem substituindo os rádios como canal de contato entre as comunidades e delas com o mundo externo. É através dela que se reportam emergências de saúde, que se têm notícias de parentes e que se articulam ações de proteção dos territórios.

Conectividade significativa

Não são apenas as comunidades tradicionais na Amazônia que estão expostas a riscos e usos inadequados da internet.

Quando os pesquisadores do Cetic.br consolidaram, em 2023, os números da primeira pesquisa que media os níveis de “conectividade significativa” no Brasil, encontraram um cenário preocupante, ainda que não de todo surpreendente. Se 84% da população brasileira é usuária da internet, apenas 22% desse universo faz um uso da rede considerado adequado.

A noção de conectividade significativa foi definida pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) como “o nível de conectividade que permite aos usuários uma experiência online segura, satisfatória, enriquecedora e produtiva, a um custo acessível”.

Falar em conectividade significativa entre comunidades amazônicas exigirá adaptar o conceito à realidade local, muito diferente dos contextos urbanos que dominam a estatística. O modo como as comunidades se conectam à internet remete a redes comunitárias, e não a conexões domiciliares ou individuais. Com frequência, a conexão está disponível apenas em espaços coletivos e em horários específicos, com uma dependência direta da oferta de energia elétrica gerada localmente por meio de geradores a diesel ou, com sorte, painéis solares.

Entre os fatores a serem levados em consideração está o uso da tecnologia no monitoramento territorial. A proteção dos territórios coletivos na Amazônia é fator primordial para a manutenção da vida de seus habitantes. Em tempos cada vez mais instáveis, em que secas extremas e incêndios ganham intensidade e proporção, a circulação de informações relevantes pode ser decisiva para a resiliência da floresta e de suas populações.

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