A disseminação do coronavírus no mundo e o impacto nos preços do petróleo
Na semana passada a OMS informou que havia cerca de 77 mil casos de COVID-19, a doença causada pelo novo coronavírus, em 27 países. Em 28 de fevereiro, a organização afirmou que o número de casos chegou a 83 mil em 52 países. Há sinais bastante positivos de que na China o vírus está sendo controlado, mas está se espalhando pelo mundo. Estamos em um ponto decisivo, disse Tedros Ghebreyesus, chefe da OMS.
A rápida disseminação do vírus para além das fronteiras chinesas contribuiu para aumentar o alarme sobre seu impacto na economia mundial. A China emitiu um número recorde de isenções de force majeure, permitindo que os exportadores violem obrigações, e os efeitos já podem ser sentidos em outros países, inclusive no Brasil. Os mercados de ações caíram acentuadamente nesta semana.
Os mercados de petróleo e outras commodities também foram atingidos. O petróleo Brent caiu cerca de 15% na semana passada e estava sendo negociado abaixo de US $ 51 por barril na manhã de sexta-feira (28 de fevereiro). As expectativas da demanda em 2020 estão sendo revisadas acentuadamente mais baixas. A demanda de derivados nos EUA também foram revistas para baixo. A EIA (2020) estima que o COVID-19 reduzirá a demanda total de petróleo e combustíveis líquidos na China em uma média de 190.000 b/d em 2020. Essa previsão é baseada em estimativas de três componentes: redução na demanda por petróleo e combustíveis líquidos causada pelo declínio geral da atividade econômica chinesa, medida pelo PIB, redução do consumo do combustível de aviação na China causado por cancelamentos de voos e impactos adicionais na demanda da China por outros combustíveis de transporte
Segundo a consultoria WoodMackenzie (2020), mesmo surtos de doenças globais muito graves, como a pandemia global de influenza de 1918-19, provaram ter apenas um impacto econômico temporário e, até o momento, não há razões convincentes para esperar que o COVID-19 seja diferente. Há, no entanto, uma incerteza significativa sobre a rapidez com que ela pode ser controlada. O impacto na demanda de petróleo na China e em todo o mundo já parece provável que seja significativamente maior do que as estimativas iniciais haviam sugerido. A perspectiva global de demanda agora depende da gravidade das medidas que outras nações precisam adotar para controlar o vírus.
Uma questão importante para o mercado é o resultado das reuniões da OPEP e seus aliados, programadas para a primeira semana de março. Acredita-se que a Arábia Saudita pressionará o grupo OPEP + a concordar com um corte adicional na produção, totalizando um milhão de barris por dia. O que é significativamente mais do que a redução de 600 milb/d recomendada na reunião do início do mês passado, quando o coronavírus ainda estava em grande parte confinado à China.
A pressão que a redução da queda dos preços faz sobre as receitas petrolíferas deve incentivar os paises da OPEP + a chegar a um acordo de reduções de oferta adicionais que possibilitaria estabilizar o mercado. Entretanto, esta almejada estabilidade pode ser ameaçada se o impacto do COVID-19 continuar até o segundo trimestre de 2020, atingindo a demanda e impedindo a recuperação esperada.