Institucional

A percepção da mobilidade urbana nas cidades brasileiras

Marcus Quintella, Marcelo Sucena

A mobilidade é um dos pilares para que as cidades pensem em desenvolvimento urbano e qualidade de vida da população, pois os deslocamentos de pessoas e mercadorias nas cidades impactam e sofrem impactos, causando externalidades negativas, tais como: acidentes, poluições, congestionamentos, entre outros. Com o objetivo de buscar os aperfeiçoamentos necessários para apoiar os organismos que tomam decisões nessa área, a FGV Transportes desenvolveu metodologia para geração do Índice da Qualidade da Mobilidade Urbana - IQMU, que permite captar a percepção das pessoas, em vários níveis e especificidades, sobre as condições da mobilidade urbana.

O presente artigo apresenta os resultados gerais do processamento de 644 registros, coletados entre 20/04/2021 e 16/05/2021, que compuseram a 3ª rodada do IQMU, realizada pela FGV Transportes, com base em modelo matemático sustentado nos preceitos da Inteligência Artificial.

Nessa 3ª rodada do IQMU, houve predominância do gênero masculino entre os respondentes, situação repetida da segunda rodada. Na primeira rodada, realizada em outubro de 2020, registrou-se a inversão desse perfil. Notou-se também, durante a análise dos dados coletados nas três rodadas, uma pequena participação de pessoas com deficiência, que não atingiu 3% dos respondentes. Quanto à faixa etária, 60% dos respondentes encontram-se entre 31 e 60 anos. Constatou-se certa predominância de respondentes graduados e especialistas (pós- -graduação lato sensu), com quase 70% de participação nas amostras do IQMU nas três rodadas.

Na análise do perfil das viagens, mais de 60% dos registros tiveram suas origens nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, sendo que mais de 40% delas não apresentavam baldeações. Entretanto, na 3ª rodada, observou-se pela primeira vez que mais de 50% dos respondentes efetuam suas viagens com apenas um modo de transporte. Quanto ao tempo de viagem, mais da metade das respostas indicou o tempo de, no máximo, uma hora para a conexão entre origem e destino, principalmente por motivo de trabalho (mais de 70% das viagens).

Quanto ao modo de transporte utilizado em viagem única, ou no seu primeiro acesso, no caso de intermodalidade, destacam-se, nas duas primeiras rodadas, o ônibus público (na ordem de 40%) e automóvel particular (em torno de 25%) como uso predominante para movimentação. Entretanto, em abril de 2021, essa proporção não se repetiu, registrando equilíbrio com 33,4% para cada modo de transporte. Fora esse predomínio, destaca-se a manutenção da mesma proporção no uso do metrô, com aproximadamente 14% nas três rodadas para coleta de dados para a composição do IQMU, gerado pela convergência de Índices de Qualidade da Mobilidade (IQMs) de cada modo.

Quanto aos IQMs, para cada modo de transporte, foram analisados os agrupamentos de alguns deles, a saber: automóvel particular, transporte público (que incorpora ônibus público, bonde, VLT, barca, trem e metrô), a pé, bicicleta, motocicleta e táxi/fretados (que contempla o táxi de qualquer tipo, os veículos utilitários e os ônibus fretados).

Nesse sentido, vale ressaltar que os IQMs e o IQMU são calculados com a utilização de um modelo matemático que expressa a percepção dos respondentes, por intermédio de notas de zero a dez, considerando-se dez a melhor qualidade. Assim, a tabela a seguir apresenta os valores calculados para os IQMs e o IQMU nas três rodadas para coleta de dados.

Ao final da pesquisa da 3ª rodada para coleta de dados, após a reflexão dos respondentes, diante das perguntas anteriores, foi solicitada a seguinte questão: “Como você percebe a mobilidade na sua cidade?”. A visão dos respondentes para as duas rodadas de coleta de dados está expressa no gráfico abaixo.  

Em síntese, a percepção da mobilidade urbana nas cidades brasileiras, de um modo geral, segundo o IQMU, resultou em uma nota de 4,7, numa escala de 0 a 10, que aponta para uma situação regular, ruim ou péssima para 82,3% dos respondentes. Somente 17,7% dos respondentes consideram a mobilidade urbana como boa ou excelente.

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Autores

  • Marcus Quintella

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a), não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.