Razões do baixo crescimento da produtividade da Europa
Desde meados da década de 1990, e particularmente após a eclosão da pandemia de Covid, a produtividade do trabalho da Europa tem crescido consideravelmente menos que a dos Estados Unidos. Embora existam várias hipóteses, para avançar no entendimento das raízes do baixo dinamismo da produtividade europeia é preciso analisar dados de produtividade dos diversos setores e empresas.
Um estudo de pesquisadores do FMI (“Europe´s Productivity Weakness: Firm-Level Roots and Remedies”) divulgado este mês utiliza microdados para comparar a produtividade de empresas da Europa com firmas dos Estados Unidos. Uma atenção especial é dedicada a dois grupos de empresas que têm sido o foco de pesquisas recentes sobre inovação e crescimento econômico.
O primeiro consiste nas empresas líderes de mercado, que em geral são de grande porte e listadas em bolsa de valores. Essas empresas se situam na fronteira tecnológica e têm grande capacidade de implementar novas tecnologias em grande escala. O segundo grupo abrange empresas jovens de rápido crescimento, que têm potencial para criar inovações disruptivas.
A análise identificou três fatos estilizados. O primeiro é que a produtividade das empresas líderes de grande porte da Europa cresceu muito menos que a das empresas líderes dos Estados Unidos nas últimas duas décadas, especialmente no setor de tecnologia da informação. Enquanto a produtividade total dos fatores (PTF) das empresas de tecnologia de grande porte da Europa ficou estagnada, a PTF das empresas americanas aumentou cerca de 40%.
Essa divergência de desempenho está associada a uma grande disparidade nos investimentos em inovação. Enquanto as empresas de tecnologia dos Estados Unidos triplicaram os gastos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) como proporção das vendas desde 2005, as firmas europeias permaneceram com uma proporção de P&D estável e baixa ao longo do período.
O segundo fato é que as firmas jovens de alto crescimento da Europa têm impacto bem menor na economia que as americanas. Em particular, as empresas americanas com menos de 5 anos de existência e que se situam entre as 10% com maior crescimento das vendas empregam uma parcela do total de ocupados seis vezes superior ao das europeias. Em consequência, poucas empresas jovens e inovadoras tornam-se líderes de mercado na Europa. A empresa típica situada entre as 10 maiores listadas em bolsa na Europa foi fundada em 1911, em comparação com 1985 nos Estados Unidos.
O terceiro fato é que na Europa existe uma proporção muito elevada de empresas pequenas e com baixo potencial de crescimento. Enquanto empresas europeias com 10 empregados ou menos concentram 20% do emprego total, nos Estados Unidos essa parcela é de cerca de 10%.
Um dado relacionado é que as firmas crescem pouco na Europa. Enquanto uma empresa com mais de 25 anos de existência na Europa emprega somente o dobro do número de trabalhadores de uma firma com menos de 3 anos, nos Estados Unidos a diferença do número de empregados entre empresas maduras e jovens é de 8 vezes.
Segundo os autores, algumas deficiências estruturais explicam grande parte do baixo dinamismo das firmas europeias. Primeiro, a grande fragmentação do mercado limita consideravelmente a possibilidade de que firmas de grande porte obtenham ganhos de escala.
Segundo, a oferta limitada de capital humano altamente qualificado e a baixa disponibilidade de capital de risco representam entraves importantes para o crescimento de empresas jovens inovadoras. Isso é particularmente pronunciado no setor de tecnologia, que depende de instrumentos inovadores para financiar a aquisição de ativos intangíveis.
Com base nesse diagnóstico, os pesquisadores do FMI concluem o estudo com várias recomendações de políticas para elevar a produtividade das empresas europeias e reduzir a distância em relação às firmas americanas.
Por exemplo, é preciso reduzir as barreiras comerciais entre os países da União Europeia, especialmente no setor de serviços. Também é necessário aprofundar o mercado de capitais europeu e aumentar o acesso das empresas jovens a fontes de capital de risco. Outra recomendação é expandir instituições de ensino superior com foco em inovação.
Embora o Brasil não seja abordado no estudo, as evidências apontam para um quadro de baixo dinamismo das empresas e estagnação da produtividade semelhantes à Europa. Nesse sentido, as recomendações para a melhoria do ambiente de negócios podem ser muito úteis também no caso brasileiro.
Este artigo foi originalmente publicado pelo Broadcast da Agência Estado em 28/02/2025.
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