Crescem iniciativas que promovem igualdade de gênero no ambiente de trabalho, aponta estudo
Ainda existe uma falsa ilusão de que essa é uma pauta ultrapassada, porém quando se olha o cenário em volta e o acesso aos dados de violência, é latente a necessidade de discussão.

Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas em 2030 é o objetivo de desenvolvimento sustentável (ODS) 5 da Organização das Nações Unidas (ONU). Apesar das metas ainda estarem distantes da realidade, crescem iniciativas para ajudar as organizações a promoverem igualdade entre homens e mulheres no ambiente de trabalho. É sobre este assunto que Maria José Tonelli, psicóloga e professora da FGV EAESP, abordou em sua pesquisa publicada na revista GV-executivo.
Ainda existe uma falsa ilusão de que essa é uma pauta ultrapassada, porém quando se olha o cenário em volta e o acesso aos dados de violência, é latente a necessidade de discussão. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foram registrados 1.319 casos de feminicídio e 56.098 de estupros no Brasil em 2021. A cada dez minutos, uma mulher ou menina é vítima de estupro, e a cada sete horas, de feminicídio. Por este motivo ainda é tão necessário discutir assuntos desse nível.
A meta é alcançar o objetivo da ODS, um modelo que deveria guiar nossa conduta individual e coletiva. As organizações têm se dedicado a promover mudanças no setor profissional como no emprego, no empreendedorismo, empoderamento digital e participação em questões de sustentabilidade ambiental, para citar alguns dos temas em pauta.
Maria José tem como foco, em sua pesquisa, mostrar as dificuldades da inserção das mulheres no mercado de trabalho, apresentando iniciativas, melhorias e benefícios que as organizações podem realizar com essas modificações.
A realidade atual
A força de trabalho feminina sofre uma intervenção racial que perpassa por um viés de preconceito nas relações sociais, afinal 50% da população brasileira é feminina e 50% composta de pretos e pardos. As mulheres negras são mais prejudicadas quando se trata de igualdade e inclusão devido ao racismo.
Além desse aspecto, outros pontos também devem ser levados em consideração, como a classe social e o envelhecimento. “A desigualdade revela-se diferentemente conforme o recorte de classe social: o teto de vidro impede mulheres das camadas privilegiadas de ascenderem ao topo das organizações; dupla jornada, ganhos instáveis e volatilidade do mercado de trabalho prejudicam as mulheres das camadas médias e baixas da população; e um terreno pantanoso, com trabalhos precários e reduzidas condições educacionais, é o cenário que enfrentam as mulheres em condições de extrema pobreza”, disse Maria José.
O envelhecimento da força de trabalho é outro aspecto que mais recentemente foi incorporado ao debate sobre questões de gênero. O fenômeno, conhecido como feminização do envelhecimento, caracteriza-se pelo fato de mulheres mais velhas sofrerem mais que os homens mais velhos no desenvolvimento da carreira.
Em relação à ascensão a posições de poder, os dados do Brasil sobre gênero são alarmantes. Entre 192 países, o Brasil ocupa a posição de número 142 no ranking de participação de mulheres na política, aponta instituição que analisa a composição de parlamentos em vários países. Na liderança das empresas, o quadro não é melhor. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e da Spencer Stuart, as mulheres ocupam apenas 14% das posições em conselhos de administração e 25% em diretorias. Ainda pior, a evolução nos últimos dez anos não foi significativa, embora as mulheres tenham acessado o mercado de trabalho por suas condições de igualdade educacional, não cresceram na hierarquia organizacional da mesma forma que os homens.
Benefícios da transformação
A inclusão de mulheres em posições de destaque no mercado de trabalho gera diversos benefícios tanto para ela quanto para a própria empresa contratante. Segue abaixo alguns pontos de destaque da presença feminina:
- Retenção de talentos
- Compliance
- Redução de Riscos Organizacionais
- Estabilidade e segurança do país
- Lucro antes de juros e imposto de renda (EBIT)
- Melhor performance empresarial com mulheres na liderança
Existem diferentes empresas que desenvolvem uma equidade de gênero e buscam desenvolver uma cultura nesse setor. Destacam-se o Prêmio Women’s Empowerment Principles, em parceria com a Rede Brasil do Pacto Global, uma iniciativa da ONU para mobilizar as empresas para os ODS. Dentro desse pacto é possível ter acesso a diferentes empresas que apoiam a causa e fazem a diferença nesse setor.
Seguem algumas metas do ODS 5:
- Acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres em toda parte;
- Eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres nas esferas pública e privada, incluindo o tráfico e a exploração sexual e de outros tipos;
- Extinguir todas as práticas nocivas, como os casamentos prematuros, forçados e de crianças e mutilações genitais femininas;
- Reconhecer e valorizar o trabalho de assistência e doméstico não remunerado, por meio da disponibilização de serviços públicos, infraestrutura e políticas de proteção social;
- Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão nas vidas política, econômica e pública;
- Assegurar o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos;
- Realizar reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos econômicos;
- Aumentar o uso de tecnologias de base, particularmente as tecnologias de informação e comunicação, para promover o empoderamento das mulheres;
- Adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todos os níveis.
De acordo com a pesquisadora, muitas empresas têm promovido ações em prol da diversidade em diferentes aspectos, como raciais e de gênero. Entretanto, a reflexão se propõe a pesar sobre os vieses inconscientes que norteiam a sociedade: “Será que o movimento de inclusão é mesmo possível nas atuais estruturas sociais e organizacionais? Será que o movimento Environmental, Social e Governance (ESG), que está apenas começando, vai de fato promover mudanças profundas nas relações das empresas com seus stakeholders em prol de uma comunidade planetária que sofre com desequilíbrios sociais e efeitos climáticos? É a nossa esperança”, ressaltou Maria José.
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