Administração

Evento destaca importância da cooperação intersetorial para promover inovação no Brasil

A iniciativa reforçou que a integração entre os setores é fundamental para transformar conhecimento científico em soluções inovadoras

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Auditório cheio em palestra da inovação para competitividade

“Inovação é uma escolha política, econômica e pessoal que a sociedade precisa fazer”, declarou o vice-presidente da Fundação Getulio Vargas, Marcos Cintra, durante a abertura do evento Inovação para Competitividade, que ocorreu no dia 27 de março, no Salão Nobre da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP). Na ocasião, especialistas da indústria, empresas e startups se reuniram para debater com pesquisadores como transformar pesquisas em inovação. Entre os debates, uma conclusão foi unânime: o caminho para promover inovação depende de uma cooperação intersetorial, entre acadêmicos e representantes do governo e da indústria.

Segundo a plataforma Web of Science, o Brasil é o 13º país entre os que mais produzem artigos científicos no mundo, mas de acordo com o Global Innovation Index, o Brasil ocupa a 50ª posição quando se trata de inovação. “Isso indica que não estamos fazendo as escolhas corretas para desenvolvermos o potencial que temos, a fim de solucionar os problemas prementes do país utilizando ciência e tecnologia”, declarou Cintra. 

O vice-presidente dividiu a mesa de abertura com o gerente de Transição Ecológica e Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Alessandro Rizzato; o diretor de Inovação e Relações Institucionais da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), Igor Nazareth; a diretora do FGV Ventures, Luciana Cualheta; e o vice-diretor da FGV EAESP, Tales Andreassi.

Cooperação intersetorial para promover inovação

Durante a primeira rodada de apresentações, Rizzato introduziu um dos principais produtos da CNI atualmente: a Mobilização Empresarial para Inovação (MEI). “A gente se propõe a unir os três principais atores do ecossistema de inovação - indústria, academia e governo - todos com o mesmo olhar em busca de um objetivo em comum que é inovação industrial no país”, afirmou.

O gerente de Transição Ecológica e Inovação também destacou que existe uma ferramenta online que divulga todas as ferramentas de fomento à inovação disponíveis no país. Trata-se da MEI Tools, que disponibiliza informações sobre editais, linhas de financiamento, programas, bolsas, parcerias, aportes financeiros, subvenção econômica, apoio para projetos e muito mais.

Diante da discrepância entre a posição no índice de publicações acadêmicas e implementação de inovação, o diretor de Inovação e Relações Institucionais da Embrapii, Igor Nazareth, destacou que a Embrapii surgiu exatamente perante esse contexto, para endereçar como utilizar o conhecimento científico a fim de gerar produtos e serviços inovadores para as empresas.

“Fazemos isso (transformar conhecimento científico em inovação) por meio das 93 unidades da Embrapii que atuam em todos os setores da economia - como química, biotecnologia, nanotecnologia, Inteligência Artificial, entre outras – levando o que existe de melhor na academia e deixando à disposição das empresas”, explicou Nazareth. 

Segundo o diretor, a Embrapii é a materialização da tríplice hélice, aproximando governo, academia e empresas, com um total de 15.564 colaboradores desenvolvendo projetos para atender demandas do setor privado brasileiro.

“Qualquer empresa, a qualquer momento, pode procurar alguma unidade da Embrapii e demandar uma inovação. A partir dessa demanda será estruturado um projeto para apresentar a empresa os investimentos necessários e as devidas etapas para o desenvolvimento deste projeto”, detalhou.

O diretor apresentou dois projetos que exemplificam como a academia pode resolver problemas das empresas brasileiras. O primeiro é o projeto Aprendizado de Máquina Utilizando Imagens Sintéticas de Veículos Automotores, desenvolvido pela Universidade Federal de Goiás (UFG) para empresa Cilia Tecnologia, cujo objetivo é desenvolver uma metodologia de IA que realize orçamentos após acidentes de carros, a partir de fotos dos danos nos veículos, para calcular os custos e os reparos que precisarão ser feitos. Saiba mais sobre essa inovação.

O outro projeto é GuarAI: Pesquisa e Desenvolvimento de um Sistema de Inspeção Visual de Produto Usando IA e IOT. Desenvolvido na unidade Metrópole Digital da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) para a empresa Guararapes Confecções S/A, este projeto tem como objetivo desenvolver um sistema de inspeção para empresas do ramo de tecidos, utilizando técnicas de IA e Internet das Coisas (IOT) para detectar falhas em rolos de malhas ou tecidos, o que permite as empresas se informar sobre possível falhas no processo e assim economizar tempo e produção, evitando o retrabalho. Saiba mais sobre este projeto.

Fatores que impedem o Brasil de aumentar taxas de inovação

O vice-diretor da FGV Eaesp, Tales Andreassi, apontou 5 motivos pelos quais o Brasil é tão pouco competitivo em relação a inovação tecnológica e não consegue alcançar os países mais desenvolvidos em inovação.

“A primeira delas é o baixo investimento em P&D, o Brasil investe 1%, enquanto EUA investe 3,5% e Coreia 4,5%. O segundo ponto é que no Brasil a maioria dos investimentos provém do setor público, enquanto nos outros países vem do setor privado. O terceiro ponto é a instabilidade das políticas públicas relacionadas a P&D, tivemos um grande corte de verbas na área de ciência e tecnologia no governo anterior. A quarta razão é o pouco apoio a digitalização e a indústria 4.0, que causa um atraso grande na adoção de inteligência artificial, robótica e internet das coisas (IOT)”, afirmou.

Além disso, o professor também indicou os pontos críticos que precisam ser trabalhados para o país atingir um padrão superior em inovação. Segundo Andreassi a baixa competitividade em função de alta carga tributária, infraestrutura precária e analfabetismo funcional são alguns pontos cruciais que precisam ser trabalhados em prol de aumentar a inovação no país.

FGV Ventures: a aceleradora de negócios da FGV

O evento também abriu espaço para a diretora do FGV Ventures, Luciana Cualheta, apresentar sobre a aceleradora da Fundação, que é a primeira aceleradora universitária do país. O programa, que tem um período de duração de 4 meses, é voltado para startups de todo o Brasil, com o objetivo de capacitar os empreendedores através de oficinas e workshops ministrados por professores da rede FGV. No total, 87 startups já passaram pelo programa em 17 batches de aceleração desde 2016, somando mais de R$ 600 milhões em valuation e R$ 150 milhões em investimento.

Para participar do programa as startups devem ter MVP validado com clientes reais, ou seja, uma primeira versão funcional do produto. “Também é preciso que os valores do negócio sejam social e ambientalmente responsáveis, com equipes diversas e complementares, que pensem não apenas nos ganhos financeiros, mas também nas externalidades causadas pelo negócio”, apresentou. Saiba mais sobre o FGV Ventures.

O evento contou ainda com painéis técnicos sobre inovação em sustentabilidade, inovação no setor automobilístico e inovação em saúde. Também participaram dos debates pesquisadores da FGV e da University of New South Wales (UNSW); representantes da Braskem, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA); empreendedores das startups Carristas, WILU, e IWASTE; além de representantes da empresa Nintx, da aceleradora Inova Unicamp, e do Hospital Sírio-Libanês.

Assista à íntegra do evento: 

Transmissão da manhã 
Transmissão da tarde