Aumento de custos provoca renegociação de contratos na construção
Desde 2020, a despeito de uma aceleração do nível de atividade do setor, as construtoras vêm enfrentando muitas dificuldades com a disparada dos custos de construção. Primeiro, com uma forte alta das matérias-primas e, mais recentemente, também da mão de obra.
Entre julho de 2020 e julho de 2022, o INCC-DI subiu 31%. O componente Materiais e Equipamentos teve alta de 51,5% no mesmo período, em decorrência da elevação expressiva de insumos como aço (94%), tubos (77,9%) e eletrodutos de PVC (67,5%).
Na Sondagem da Construção do FGV IBRE, o quesito “custo da matéria-prima” assumiu em junho de 2021 a liderança no ranking dos fatores limitativos à melhora dos negócios e vem se mantendo como uma das mais relevantes dificuldades enfrentadas pelo setor desde então.
Em julho, o FGV IBRE adicionou quesitos na Sondagem buscando entender e dimensionar a importância da questão e, principalmente, saber se há, no momento, risco iminente de paralisações das obras. Vale lembrar que o setor da construção tem sido um importante gerador de empregos, contribuindo para a recuperação do mercado de trabalho nos dois últimos anos.
Foram feitas três perguntas às empresas: se elas estão tentando renegociar contratos face à evolução recente de custos. Em caso afirmativo, perguntou-se se elas estão sendo bem-sucedidas nas negociações; e por último, qual o risco de paralisação das obras.
A pesquisa confirmou que a maioria das empresas (52,4%) está tentando renegociar contratos. Alguns segmentos destacaram-se com percentuais acima da média do setor, como o de Obras de Infraestrutura para Engenharia Elétrica e para Telecomunicação (70,5%) e o de Obras de Montagem, com 61,6%. No segmento de Edificações Residenciais, que tem participação expressiva na geração de renda e emprego, 52,2% das empresas assinalaram a iniciativa de renegociar.
Segmentos | Face à evolução recente de custos, a empresa vem tentando renegociar contratos? | |
Sim | Não | |
Setor da Construção | 52,4 | 47,6 |
Preparação do Terreno | 51,6 | 48,4 |
Construção de Edifícios e Obras de Engenharia Civil | 50,6 | 49,4 |
Edificações | 49,5 | 50,5 |
Edificações Residenciais | 52,2 | 47,8 |
Edificações não Residenciais | 44,5 | 55,5 |
Obras Viárias | 48,5 | 51,5 |
Obras de Arte Especiais + Obras de Outros Tipos | 54,0 | 46,0 |
Obras de Montagem | 61,6 | 38,4 |
Obras de Infraestrutura para Engenharia Elétrica e para Telecomunicações | 70,5 | 29,5 |
Obras de Instalações | 54,7 | 45,3 |
Obras de Acabamentos | 54,3 | 45,7 |
Outros Serviços para Construção | 36,6 | 63,4 |
Fonte: FGV IBRE
Entre as empresas que disseram que estão renegociando o contrato, 47,1% das empresas responderam que a renegociação está sendo bem-sucedida. No entanto, vale o destaque para o percentual relevante de 31,3% que disseram ainda estão aguardando a resposta da renegociação. Além disso, 21,6% delas afirmaram que não estão sendo bem-sucedidas nas renegociações.
Entre os segmentos com maiores percentuais de renegociação bem-sucedida estão aqueles relacionados a serviços, como o de Obras de Acabamentos (81,4%), Obras de Instalações (61,9%) e Outros Serviços para Construção (62,1%).
Um ponto de destaque é que as empresas dos segmentos relacionados à infraestrutura, como os de Obras Viárias e Obras de artes, onde predominam contrato com o setor público têm percentuais acima da média dos demais - de 40,2% e 39,3% - de que ainda estão aguardando a resposta da renegociação do contrato.
Segmentos | (caso afirmativo) A renegociação está sendo bem-sucedida? | ||
Sim | Não | A empresa ainda não obteve resposta sobre seu pedido | |
Setor da Construção | 47,1 | 21,6 | 31,3 |
Preparação do Terreno | 42,5 | 22,4 | 35,1 |
Construção de Edifícios e Obras de Engenharia Civil | 39,3 | 25,6 | 35,1 |
Edificações | 38,8 | 28,2 | 33,0 |
Edificações Residenciais | 48,2 | 22,6 | 29,2 |
Edificações não Residenciais | 30,4 | 38,9 | 30,7 |
Obras Viárias | 37,1 | 22,7 | 40,2 |
Obras de Arte Especiais + Obras de Outros Tipos | 38,5 | 22,2 | 39,3 |
Obras de Montagem | 55,6 | 15,9 | 28,5 |
Obras de Infraestrutura para Engenharia Elétrica e para Telecomunicações | 53,1 | 7,0 | 39,9 |
Obras de Instalações | 61,9 | 21,5 | 16,6 |
Obras de Acabamentos | 81,4 | 5,2 | 13,4 |
Outros Serviços para Construção | 62,1 | 19,2 | 18,7 |
Fonte: FGV IBRE
Por fim, pode-se dizer que para o conjunto das empresas do setor, o risco de paralisação de obras é ainda relativamente baixo: para 77,1% das empresas não há risco de paralisação.
Mas há segmentos, como os de Obras viárias e Obras de artes, em que mais de 20% das empresas apontam risco de paralisação. Estes são segmentos que possuem contratos majoritariamente com entes públicos. O setor de Obras viárias é responsável pela construção de estradas e ruas. O de Obras de arte, pela construção de tuneis, viadutos, pontes etc.
O aumento expressivo dos custos em curto período atingiu contratos em andamento, causando grande desarranjo nas empresas. Assim, a iniciativa de renegociar os contratos no cenário de forte elevação dos preços dos materiais era esperada e a pesquisa confirmou esse movimento, que parece ser bem-sucedido para a maioria das empresas. No entanto, a pesquisa traz um sinal de atenção para os segmentos de obras viárias e de artes onde há um risco mais elevado de paralisação e onde também há maior indefinição em relação ao pedido de renegociação junto ao setor público, principal contratante dessas obras.
Segmentos | Há risco de paralisação da obra em 2022? | ||
Sim | Não | Não sabe | |
Setor da Construção | 12,5 | 77,1 | 10,4 |
Preparação do Terreno | 21,2 | 66,7 | 12,1 |
Construção de Edifícios e Obras de Engenharia Civil | 15,8 | 74 | 10,2 |
Edificações | 11,7 | 77,1 | 11,2 |
Edificações Residenciais | 10,3 | 79,2 | 10,5 |
Edificações não Residenciais | 13,2 | 75,4 | 11,4 |
Obras Viárias | 23,5 | 68,8 | 7,7 |
Obras de Arte Especiais + Obras de Outros Tipos | 22,3 | 67,2 | 10,5 |
Obras de Montagem | 17,1 | 76,3 | 6,6 |
Obras de Infraestrutura para Engenharia Elétrica e para Telecomunicações | 1,2 | 84,5 | 14,3 |
Obras de Instalações | 8,5 | 81,1 | 10,4 |
Obras de Acabamentos | 12,3 | 87,7 | 0 |
Outros Serviços para Construção | 5,7 | 84,9 | 9,4 |
Fonte: FGV IBRE
O artigo foi publicado originalmente em 23 de agosto de 2022 no Blog do IBRE.