Estado de calamidade no Amapá: uma crise sanitária e outra energética

Quase 90% da população está há mais de 60 horas sem energia elétrica em plena pandemia da Covid-19

Energia
06/11/2020
Gláucia Fernandes

O Amapá vive situação de emergência em função do apagão que atinge o estado desde terça-feira (3/11). Quase 90% da população está há mais de 60 horas sem energia elétrica em plena pandemia da Covid-19.

Após forte chuva uma subestação de energia pegou fogo na capital e deixou 13 dos 16 municípios do estado sem energia elétrica. No acidente, o segundo transformador também foi avariado e ficou fora de operação, enquanto o terceiro estava desligado para manutenção desde o ano passado. A empresa espanhola Isolux, construtora e operadora da linha de transmissão de 500 kv Tucuruí-Macapá-Manaus, que liga o Amazonas, o Amapá e oeste do Pará à Usina Hidrelétrica de Tucuruí, não consegue trocar o transformador que pegou fogo porque não tem outro para pôr no lugar em hora de emergência. Essa é a única linha que fornece energia ao Amapá. Sem essa linha, o estado fica isolado do Sistema Interligado Nacional.

Sem eletricidade, 89% da população sofre sem fornecimento de água (bombeamento elétrico) e oferta regular de serviços de telecomunicações. A capital Macapá concentra 60% da população estadual e moradores buscam shoppings e o aeroporto para conseguir energia. Isso porque a capital, que tem uma carga de 240 MW, está recebendo apenas 40 MW da usina hidrelétrica de Coaracy Nunes, situada a 150 km de Macapá, que pertence à estatal Eletronorte.

O prefeito de Macapá, Clécio Luís, decretou nesta quinta-feira estado de calamidade pública na capital por 30 dias. A maioria dos postos de gasolina não consegue operar por falta de geradores e os caixas eletrônicos e máquinas de cartão não funcionam. Como resultado, postos de combustíveis, supermercados e locais de revenda de água estão com filas enormes. Os postos de gasolina na região foram autorizados a funcionar 24 horas por dia. Antes, devido à pandemia do novo coronavírus, os postos só podiam funcionar das 6h até 22h. Empresários e comerciantes, sobretudo do ramo de alimentação, estão acumulando prejuízos com alimentos estragados devido à falta de refrigeração. Hospitais operam com a ajuda de geradores.

A subestação atingida pelo incêndio passou por reparos, mas ainda não houve reestabelecimento do serviço. A previsão era de que 60% ou 70% dos serviços fossem retomados ainda na sexta-feira, conforme o gabinete de crise do governo federal, porém o plano para tentar restaurar parte da energia do estado ainda não deu certo, porque a operação é complexa uma vez que depende da conclusão de reparos que estão sendo feitos no transformador número 3 da subestação Macapá, que só poderá entrar em operação após a descontaminação de 45 mil litros de óleo usados no equipamento.

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse nesta sexta-feira (6/11) que pretende restabelecer toda a energia no estado do Amapá em até 10 dias. Além disso, o primeiro transformador da subestação será substituído em até 15 dias por um equipamento disponível no município de Laranjal, a 300 km de Macapá. O segundo, por um transformador da Eletronorte que será transportado de Boa Vista, em Roraima, e terá a instalação concluída em 30 dias. Albuquerque reforçou que o restabelecimento das condições normais de operação no Amapá pode levar até 30 dias.

O Ministério de Minas e Energia abriu uma investigação para apurar as causas do incêndio, se houve falhas na falta de peças de reposição e por que o terceiro gerador está em manutenção há quase um ano. 

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional da FGV.

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Autor(es)

  • Gláucia Fernandes

    Pesquisadora da FGV Energia e Coordenadora do MBA/FGV em Gestão de Negócios para o Setor Elétrico. Economista pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Mestre em Economia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e doutora em Finanças e pós-doutora em Engenharia Industrial pela PUC-Rio. Durante o doutorado, foi pesquisadora visitante na University of Texas at Austin - McCombs School of Business. Foi Pesquisadora do Núcleo de Energia e Infraestrutura - NUPEI.  

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