Comércio exterior, nacionalismo e populismo são temas de novo livro sobre Relações Internacionais
O livro faz uma comparação entre Brasil, Estados Unidos e Índia desde o começo do século 21, quando havia amplo otimismo acerca da abertura de mercados no sistema multilateral da OMC.

O professor Vinicius Rodrigues Vieira da Escola de Relações Internacionais (FGV RI) publicou recentemente um livro sobre comércio exterior, nacionalismo e populismo chamado "Shaping Nations and Markets". A editora é a Routledge, uma das maiores do mercado acadêmico global.
O livro faz uma comparação entre Brasil, Estados Unidos e Índia desde o começo do século 21, quando havia amplo otimismo acerca da abertura de mercados no sistema multilateral da Organização Mundial do Comércio (OMC), até os dias atuais.
O foco é compreender como disputas entre setores econômicos protecionistas e liberalizantes e conflitos em torno da definição de identidade nacional são fundamentais para entender como a globalização estagnou-se e movimentos políticos de ultradireita espalharam-se pelo mundo.
No caso do Brasil, a busca pela liberalização do comércio para favorecer o agronegócio mistura-se à ascensão de segmentos evangélicos, os quais contestam a noção de brasilidade fundamentada no sincretismo e mestiçagem. Os Estados Unidos, por sua vez, têm no fenômeno Donald Trump uma expressão do protecionismo na indústria e do nacionalismo branco em oposição ao liberalismo comercial e defesa de uma América pós-racial.
Já a Índia encontrou no nacionalismo Hindu um caminho para avançar a liberalização econômica, a qual beneficia setores como a produção de software e outros serviços de maior valor agregado. O livro conta ainda com análises pontuais do Brexit, além dos casos do Canadá e México, nos quais o populismo de direita não encontrou forças no sistema partidário.
Diferenciais da obra
O livro recebeu a chancela de acadêmicos internacionalmente renomados. Laurence Whitehead, da Universidade de Oxford, afirma que Shaping Nations and Markets derruba barreiras convencionalmente estabelecidas na política comparada, pois discute casos que muitas vezes são estudados apenas isoladamente. Para Miguel Centeno, professor de Sociologia na Universidade Princeton, o livro contribui para lembrar que identidade importa para explicar assimetrias de poder. Já Erik Voeten, um dos principais nomes do campo de Relações Internacionais e docente da Universidade Georgetown, Shaping Nations and Markets é uma “obra bastante original” e representa uma adição significativa ao conjunto de trabalhos sobre protecionismo e liberalização comercial nos países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Como o próprio autor explica, "trata-se do primeiro livro a comparar sistematicamente casos de populismo de direita em países do Norte e do Sul global, contestando, assim, a ideia enraizada de que a ultradireita é sempre protecionista. Como os casos de Brasil e Índia bem demonstram em contraponto aos Estados Unidos, é possível que movimentos políticos defendam novas formas de nacionalismo cultural enquanto defendem maior integração de mercados na economia global. Ademais, do ponto de vista teórico, o livro abre as portas para um diálogo franco entre o campo da Economia Política Internacional e a Sociologia Econômica por meio da aplicação dos conceitos de campos e capital de Pierre Bourdieu".
"Em tempos instáveis, é necessário irmos além de modelos excessivamente parcimoniosos, como aqueles inspirados em teorias dominantes em ciências econômicas, para entendermos novos fenômenos político-econômicos. No caso da revolta populista contra a globalização, nada parece ser tão óbvio assim exceto se levarmos a sério outra variável além de interesses, instituições e ideias. O elo perdido nessa análise parece ser a identidade—mais especificamente como identidades relacionadas a etnia, raça e religião informam concepções distintas de nacionalidade e, assim, impactam a elaboração de políticas públicas, inclusive a política comercial de um país", diz o autor.
Para adquirir o livro, acesse o site.
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