Dia da Mulher: Narrativas Femininas ecoam sobre histórias de vida marcantes de professoras da FGV
“Todas as vitórias ocultam uma abdicação”. Essa frase está no livro Mémoires d'une jeune fille rangée de Simone de Beauvoir. Apesar de a autora ter lançado essa obra em 1958, ainda hoje as mulheres sofrem com abdicações de suas conquistas. Por isso, hoje, no dia 8 de março, comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Nessa data, caracterizada pela luta feminina, mulheres das mais diferentes origens, que fazem parte da FGV, trazem narrativas femininas que ecoam sobre as várias áreas do conhecimento. Passando por Comunicação, Economia, Administração, Finanças, até o Direito.
Quem são nossas personagens deste 8 de março:
Lilian Furquim, diretora e professora da Escola de Economia de São Paulo (FGV EESP),
Rogiene Batista, professora da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP),
Claudia Yoshinaga, professora da FGV EAESP,
Janaína Feijó, professora da EPGE Escola Brasileira de Economia e Finanças (FGV EPGE) e pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE)
Maria Carolina Medeiros, professora da Escola de Comunicação, Mídia e Informação (FGV ECMI)
Lilian Furquim relata que não se sentiu impedida de fazer nada em sua trajetória, seja na escolha de uma profissão ou num esporte. “Eu tive uma infância muito moleca, então eu pude explorar coisas que normalmente na minha geração só os garotos iriam explorar”, ressaltou.
A diretora enfatizou o zelo das mulheres em relação aos demais familiares. Segundo ela, as mulheres de sua família poderiam ter se destacado como profissionais excepcionais, no entanto, dedicaram-se exclusivamente ao ambiente familiar. “A desigualdade entre homens e mulheres ainda é grande. A gente ainda tem que caminhar um longo percurso para que se reduza essa área do cuidado é só uma delas”.
Da mesma forma que Lilian aponta o cuidado como um ponto de atenção para a desigualdade, Rogiene Batista conta que viveu momentos de extrema luta pela sua origem. Oriunda de uma família sem estudos, cresceu sem muitas referências em uma das periferias mais perigosas de Salvador. No seio familiar, ninguém tem graduação. Mesmo nesse contexto de improbabilidades, encontrou em sua mãe uma força.
“Aos sete anos eu não sabia ler. A minha professora desacreditou de mim. Mas uma frase que a minha mãe falou que me marcou até hoje foi: filha, você nasceu para brilhar, o seu destino será extraordinário. E hoje eu estou aqui”, disse ela.
Rogiene teve a oportunidade de fazer graduação pelo Prouni, com 100% de bolsa, fez uma especialização em Gestão Estratégica de negócios e depois trabalhou no mercado. Cursou mestrado e doutorado na USP de Ribeirão Preto. Quando se mudou para o interior de São Paulo, sua meta era ir para o Massachusetts Institute of Technology (MIT). O sonho que parecia improvável diante de uma infância de pobreza e uma trajetória de luta se tornou realidade em 2018. Nos EUA, ela teve a oportunidade de vivenciar uma experiência incrível, com mulheres inspiradoras. Isso mostrou para ela que nada é impossível quando você está disposto a conquistar seus objetivos.
“Quando olho para trás, eu vejo a minha mãe e a minha avó que não tiveram oportunidades. Minha avó não sabe ler e minha mãe fez o EJA (Ensino para jovens e adultos). E eu fiz esse percurso acadêmico. O que eu quero dizer com isso é que não sou só eu que nasci para brilhar, você também nasceu para brilhar” disse ela.
Ocupar espaços que muitas vezes são povoados por homens é a luta de Claudia Yoshinaga. Professora de Finanças na FGV EAESP, ela revela que a área não é exatamente um local em que as mulheres são tão presentes, tanto no mercado de trabalho, quanto na academia. Então, em parte, sua luta e vontade é que haja cada vez mais mulheres ocupando esses espaços.
“Um dos grandes ensinamentos que recebi da minha mãe foi buscar independência financeira, ir atrás dos meus objetivos. Isso foi uma inspiração muito grande para eu continuar seguindo, apesar de todas as lutas. Espero ser inspiração para alunas, mostrando que existem desafios sim, mas estamos na luta para tentar reduzir essas desigualdades e fazer um mundo mais igual’’, ressaltou Claudia.
Além de Claudia na área de Finanças, Maria Carolina Medeiros, professora da FGV ECMI, reitera que a sua vida profissional reflete o estudo no âmbito feminino, como pesquisadora de narrativas sobre mulheres e socialização feminina. “Quem eu sou profissionalmente se confunde com quem eu sou na vida”, reitera.
“Minha pesquisa me dá o benefício de conhecer a história de muitas delas e me possibilitar também ter um repertório maior para entender a história das que fazem parte da minha vida. Então essa ideia de sororidade que a gente tanto fala, eu aprendi muito com as pesquisas que eu faço e compreendi como replicar isso na minha vida”.
Maria Carolina relata os ensinamentos recebidos por mulheres como pontos fortes em sua vida. “A gente é criada para competir umas com as outras. A rivalidade feminina não é modo de dizer, e não é uma coisa que a gente acha que não existe, mas é uma coisa que botaram na nossa cabeça. É uma construção social e cultural, por isso é necessário suprimir a rivalidade feminina”.
Não é só na Comunicação que há desafios para as mulheres. Janaína Feijó mostra que seguir a carreira acadêmica dentro da economia foi bastante desafiador. Optar por cursar mestrado e doutorado, sem dúvida, trouxe muitas provações, pois teve que aprender a conciliar o esforço e a dedicação do estudo com a vida pessoal. E isso não é nada fácil para uma mulher.
“Pelo fato de a Economia ser uma ciência com predominância masculina, é muito importante ver mulheres ascendendo a postos de gerência, cargos de chefia, chegando a posições estratégicas dentro das empresas. Isso, sem dúvida, me ajudou muito a querer chegar até onde eu estou hoje e acreditar que é possível”, disse ela.
Os desafios e provações também são evidentes para Yasmin Curzi como professora de Direito e coordenadora do Programa Diversidade e Inclusão na FGV Direito Rio. Apaixonada pela área acadêmica, é professora de Direitos Humanos, na FGV Direito Rio, onde também é pesquisadora na área de tecnologia e gênero desde então, fazendo pesquisas na interseção entre sociologia, direito e estudos de gênero.
A história feminina que mais a acompanha e inspira tem sido das mulheres feministas que buscaram avançar na luta e na conquista por direitos para mulheres. São histórias de força e superação. Essas mulheres que quebraram barreiras, venceram estereótipos de gênero, buscaram justamente disputar lugares na esfera pública, seja nas instituições políticas ou na própria academia, que ainda é hoje um ambiente bastante dominado por homens.
“Essas histórias são como na minha história, me inspirando justamente a também tentar superar essas barreiras de estereótipo de gênero, combater também. Busco combater o assédio, a discriminação no ambiente acadêmico, é o que eu tenho feito na coordenação do programa diversidade aqui, da FGV”, completou.
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