Administração

Pesquisa mostra que versatilidade cognitiva impulsiona equipes e resultados nas empresas

Estudo analisou mais de 132 equipes com 452 participantes no total. 

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Pesquisa mostra que versatilidade cognitiva impulsiona equipes e resultados nas empresas

“Há uma tendência, cada vez maior, de falar sobre diversidade. As empresas estão aderindo de forma crescente a essas ações afirmativas, conforme cresce também o número de estudos nessa área. Mas o mercado de trabalho e o setor acadêmico podem estar ignorando um fator fundamental para o trabalho em equipe”. A fala da pesquisadora Ishani Aggarwal, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE), chama atenção para o potencial que as "pessoas com habilidades cognitivas versáteis" podem ter para melhorar a formação de equipes e gerar melhores resultados para diferentes organizações. 

A pesquisadora realizou dois estudos que demonstram como esses indivíduos de cognição versáteis são capazes de conectar os demais membros de um time e direcioná-los para um determinado objetivo. “Essas pessoas são capazes de entender diferentes perspectivas, cognitivos, sociais, entre outras, que podem aumentar a colaboração dentro de um time, criando espécies de ‘pontes’ entre indivíduos diversos”, explicou Aggarwal, ao declarar que “além de garantir a diversidade dentro de uma equipe, é necessário promover os devidos mecanismos para que essa diversidade seja utilizada em toda sua potencialidade”. 

Aggarwal reitera que esses indivíduos cognitivamente versáteis são capazes de alcançar este feito porque possuem facilidade para lidar com diferentes estilos de pensamento, a exemplo de pessoas multiculturais, com conhecimento de diferentes realidades além das suas. Para provar essa hipótese, a pesquisadora realizou dois estudos experimentais, que, no total, envolveu 452 participantes, oriundos de 132 equipes. 

Diferentes cognições no trabalho colaborativo 

“O primeiro estudo foi realizado com alunos de MBA, (Master of Business Administration), nos Estados Unidos da América (EUA), no qual durante o curso foi aplicado um questionário para obter dados sobre como os indivíduos processam diferentes informações, seja de maneira visual, verbal, etc”, introduziu a pesquisadora. Ela atuou em diversos estudos que buscam entender como funciona a individualidade dentro de um grupo. 

As equipes, compostas por cinco membros, participaram do Change Pro, uma ferramenta computadorizada e realista, projetada para ajudar os gestores a aumentar a capacidade de implementar mudanças, ao oferecer a eles um desafio para ser solucionado. Nesta dinâmica, eles precisavam analisar as redes sociais da organização, tanto as formais, quanto as informais. O objetivo era criar uma rede poderosa, composta por pessoas influentes, capaz de apoiar a implementação de um programa de qualidade chamado Sigma Six, um sistema utilizado em empresas para melhorar a qualidade dos processos, identificar e corrigir problemas, e reduzir a variação nos resultados. 

Ao construir essa rede de apoiadores, as equipes almejavam obter o suporte necessário para implementar o programa com sucesso dentro organização, envolvendo técnicas de convencimento, treinamento e engajamento dos colaboradores. “Os indivíduos que demonstraram ser multiculturais e possuir diferentes perspectivas, foram justamente os que conseguiram solucionar o desafio mais rapidamente e com os melhores resultados. Eles tiveram um melhor relacionamento dentro do grupo, o que se traduziu em uma performance positiva da equipe”, evidenciou Aggarwal. 

A pesquisadora ressalta que este estudo focou na individualidade cognitiva e não na inteligência dessas pessoas. “Não estamos analisando a quantidade de conhecimentos que esses indivíduos possuem, e sim a sua capacidade de processar essas informações”, ponderou.  

Para Aggarwal, outro aspecto importante diz respeito a diversidade entre os participantes: “no intuito de averiguar a possibilidade de gerar conexões sob diferentes perspectivas, entre os 206 participantes que fizeram parte desta etapa, 30% eram mulheres, 6,4% eram negros, 37,7% eram asiáticos, 44,2% brancos, 7,8% latinos e 3,4% de outras etnias”. 

Maior capacidade para solucionar conflitos 

Aggarwal destaca que em relação aos estudos nessa área é recomendado realizar mais de um teste experimental, a fim de garantir a validade dos resultados. Por isso, a pesquisadora realizou um estudo experimental com alunos de graduação, do Instituto de Tecnologia da Geórgia, em Atlanta. Nesta fase, foram formados grupos aleatórios de três pessoas, e solicitado que eles desenvolvessem um determinado projeto. 

“Durante a execução deste projeto os alunos foram gravados para que nós pudéssemos analisar posteriormente, a partir dos vídeos e áudios, a dinâmica entre eles. Ao medir o comportamento dos indivíduos, nosso interesse foi verificar como ocorre diferentes conflitos e como se dá na prática, o processo de integração”, disse Aggarwal. 

Neste estudo, as equipes trabalharam em um exercício de simulação de tomada de decisão organizacional, no qual uma empresa fictícia chamada A Farm E-Z, que fabrica equipamentos agrícolas, tinham lançado recentemente um novo moedor-ventilador, mas que não obteve sucesso. A tarefa dos participantes era descobrir como reverter as perdas causadas por esse novo produto, em curto prazo, e como garantir lucros no longo prazo. 

Para isso, eles receberam várias e-mails com reclamações de clientes, dados de vendas, feedback dos distribuidores e problemas de reparo. “Essas reclamações foram apresentadas de diferentes formas, usando palavras escritas, gráficos e imagens para atender às diferentes maneiras como as pessoas aprendem e pensam”, complementou a pesquisadora. 

De acordo com Aggarwal, mais uma vez as equipes que contavam com indivíduos cognitivamente versáteis foram capazes de solucionar esses conflitos com mais eficácia e promover uma melhor integração dentro desses times. “Eu acho que foi muito interessante a realização deste segundo estudo, pois queríamos entender como os processos ocorrem de fato. Foi possível analisar desde a formação de uma equipe, até os processos para alcançar um determinado resultado”. 

Impacto nas organizações 

Aggarwal ressalta que a princípio os resultados desta pesquisa, intitulada The Benefits of Cognitive Style Versatility for Collaborative Work, podem até soar intuitivos, mas é muito importante analisar como esses processos ocorrem na prática, pois nem sempre as empresas dão o devido valor a essas pessoas “cognitivamente versáteis” nos processos seletivos. “Recomendamos que gestores deem mais atenção a esses indivíduos pois eles podem ajudar bastante no desempenho das equipes”. 

A pesquisadora reitera que a presença de indivíduos cognitivamente versáteis facilita a realização de tarefas e garante um processamento mais eficaz acerca das informações não só de um processo, mas também da própria equipe. Segundo Aggarwal, eles ainda são capazes de reduzir o conflito em diferentes atividades e aumentam a integração social do time, o que acaba por promover o desempenho do grupo e os resultados para uma respectiva organização. 

“Por mais incrível que seja a diversidade dentro de uma equipe, muitas vezes essas pessoas que representam a diversidade, não conseguem alcançar todo seu potencial, justamente por não conseguirem se expressar ou comunicar dentro de um time. Este estudo constatou que as pessoas com versatilidade cognitiva são capazes de sanar este problema e levar as equipes a alcançarem melhores resultados”. 

Confira o estudo na íntegra.