Atividade Econômica Regional no Terceiro Trimestre de 2020
Uma questão interessante dessa crise, no Brasil e na maior parte do mundo, é que ocorreu uma substituição do consumo de serviços por bens, e, com as pessoas ficando mais tempo em casa, um aumento do consumo de alimentação no domicílio, “puxando” esse dado positivo de comércio
Praticamente todos os países do mundo apresentaram um forte recuo da atividade econômica no segundo trimestre deste ano, no período mais crítico da crise do coronavírus, com as medidas mais rígidas implementadas de distanciamento social e diminuição de circulação das pessoas, e uma recuperação nos três meses seguintes. O crescimento robusto no 3T20 foi muito influenciado por ser em cima de uma base muito deprimida, devendo ser visto com uma certa cautela a taxa de variação em comparação com os três meses anteriores.
O Banco Central divulga mensalmente o Indicador de Atividade Econômica, para o Brasil, as cinco regiões e 13 estados brasileiros,[1] que correspondem a 85% do PIB brasileiro.[2] O Gráfico 1 mostra o comportamento da atividade econômica nesses estados, com a forte queda no segundo trimestre deste ano[3] e a recuperação no trimestre posterior.
A análise regional é muito influenciada, claro, pelo comportamento da economia nacional, mas também por questões específicas de cada unidade da Federação. Por exemplo, o peso que cada setor tem na economia influencia bastante a evolução como um todo da atividade econômica, principalmente no contexto atual da crise do coronavírus.[4] O setor de serviços, mais impactado na crise atual, tem importâncias diferentes nas regiões e estados. Na região Norte, os serviços apresentam o menor peso dentre todas as regiões (64,6%), quase 10 p.p. abaixo do peso no Brasil (73,0%).[5]
A Tabela 1 mostra as taxas de variação entre o último dado disponível (setembro/20) e o período pré-crise do coronavírus (fevereiro/20), com as perdas acumuladas e posteriores recuperações do indicador de atividade econômica do Banco Central e dos setores da indústria, serviços e comércio, segundo as pesquisas PIM-PF, PMS e PMC, todas do IBGE, para os 13 estados com dados disponíveis do indicador do BCB.[6]
Segundo a tabela, sete dos 13 estados (AM, CE, MG, PA, RS, SC e SP) já recuperaram todas as perdas econômicas acumuladas com a crise. Abrindo pelos setores, nove (AM, CE, GO, MG, PA, PR, RS, SC e SP) já recuperaram as perdas da indústria. No segmento de serviços, o mais afetado na crise, somente quatro (AM, ES, PA e SC), dentre esses 13 estados, já recuperaram totalmente as perdas desde março.[7] No comércio, todos os estados da amostra já ultrapassaram o nível de vendas no varejo de fevereiro.[8]
Uma questão interessante dessa crise, no Brasil e na maior parte do mundo, é que ocorreu uma substituição do consumo de serviços por bens, e, com as pessoas ficando mais tempo em casa, um aumento do consumo de alimentação no domicílio, “puxando” esse dado positivo de comércio. As pessoas não estão viajando (ou viajando menos), não estão indo ou indo menos em bares / restaurantes (pelo menos não na frequência pré-coronavírus), festas / eventos em quantidades reduzidas, entre outros. Isso explica o fraco desempenho do segmento de serviços. E, ficando mais tempo em casa, as pessoas acabam comprando mais objetos domésticos, seja porque estão sendo mais utilizados, e acabam quebrando, como geladeira, televisão, fogão, etc, e também fazendo pequenas reformas em casa. Tudo isso, além principalmente do aumento com supermercado e farmácia, ajudam a explicar o forte desempenho das vendas no varejo.
Em resumo, este artigo fez um levantamento do comportamento da economia regional, dos 13 estados com dados disponíveis do indicador do Banco Central. Sete dos 13 estados já recuperaram todas as perdas econômicas acumuladas com a crise. Abrindo pelos setores, de acordo com as pesquisas do IBGE, nove já recuperaram as perdas da indústria; quatro, as perdas do segmento dos serviços; e, no comércio, todos já voltaram e passaram o nível pré-crise. As incertezas ainda são bastante altas para os próximos meses, seja em questões econômicas, principalmente como a economia vai se comportar quando os estímulos acabarem, notadamente o auxílio emergencial, como sanitárias (possibilidade de segunda onda, por exemplo). Somente com o fim da pandemia, através da descoberta da vacina (pelo que parece, essa etapa já foi concluída!), e a sua produção e distribuição em larga escala, é que a economia brasileira e dos estados vai poder começar a se recuperar plenamente das perdas das duas últimas recessões (2020 e 2014/16), que levaram o país a ter mais uma década perdida na economia.
[1] Os mesmos estados com dados da produção industrial, divulgado pelo IBGE.
[2] De acordo com dados de 2018 das Contas Regionais do IBGE.
[3] Ver também Balassiano (2020), “Relação entre a atividade econômica dos estados brasileiros no trimestre mais impactado pela crise atual e dados da Covid”, publicado no Portal FGV em 11/09/20.
[4] Uma das formas de se medir o desempenho de cada estado na condução da crise de saúde é olhar os dados de taxa de mortalidade por 100 mil habitantes, divulgado pelo Ministério da Saúde. Com atualização até 01/12/20, as taxas são as seguintes: AM (118,1), BA (55,8), CE (105,4), ES (106,9), GO (90,9), MG (47,5), PA (80,4), PE (94,8), PR (54,4), RJ (131,4), RS (60,6), SC (53,2) e SP (92,1).
[5] Participação no valor adicionado bruto, dados de 2018, segundo as Contas Regionais do IBGE.
[6] As pesquisas de serviço e comércio, divulgadas pelo IBGE, tem dados para os 26 estados e o DF. Porém, para facilitar a análise, optou-se por restringir a amostra com os 13 estados com dados disponíveis pelo Banco Central.
[7] Oito estados no total, dentre os 26 e o DF (RO, AM, PA, MA, ES, SC, RS e MT).
[8] Dentre todas as unidades da Federação, somente Tocantins e DF não recuperaram todas as perdas.
*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional da FGV.
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