Institucional

O coronavírus destruindo demanda 

Fernanda Delgado

Entre pandemia, recessão e quarentena, o preço do petróleo no mercado internacional atingiu seu ponto mínimo de 22 dólares por barril, menor valor em 18 anos. O não consenso entre os membros da coalisão OPEP+ levou a uma retaliação por parte da Arábia Saudita que inundou o mercado de óleo, jogando os preços para baixo, levando sua produção a 12,3 milhões de barris por dia. 

Importante frisar que essa estratégia do reino saudita de jogar a produção para cima e os preços para baixo faz parte de sua antiga diplomacia bizantina de não-guerra que força os adversários a voltarem a mesa de negociação e à cederem à sua vontade.  A esta altura da crise que se alastra pelo mundo, mesmo que haja um alinhamento entre Árabes e Russos isso só resolveria 40% da crise, mas teria um efeito psicológico muito significativo nos mercados, imprimindo ânimo e fôlego. E isso poderia ser resolvido com um telefona entre as partes, que reduziria a crise de superoferta, removendo este componente da equação-crise econômico, politico e social atual.

De igual maneira, a queda da demanda por combustíveis, associada à pandemia tem causado um grande problema aos refinadores de petróleo. Além da menor circulação de pessoas e automóveis nas principais cidades, o tráfego aéreo mundial caiu em 46%. Estimam-se 3 bilhões de pessoas em lockdown atualmente, o que arrefeceu a demanda em mais de 30%.

A aguda queda no consumo de gasolina levou, já na semana passada, às primeiras paradas de unidades de processo e plantas inteiras de refino. Na Itália, a refinaria de Ancona, de 85 mil barris por dia, foi parada. A gigante indiana, Reliance, já anunciou que pretende reduzir a produção em abril, acompanhando outros refinadores indianos que já pararam ou fizeram cortes de produção. Nos EUA, a Exxon parou uma unidade de produção de gasolina da refinaria de Baytown, a maior da empresa no país. E ainda virão mais cortes por aí. 

A Goldman Sachs estima que a demanda deva cair 18,7 milhões de barris por dia em todo o mundo no próximo mês, causando um choque sem precedentes para o sistema refinador global. Como não há demanda e os estoques se aproximam do limite físico, muitas refinarias não terão outra alternativa a não ser parar a produção. 

No Brasil, em um período de depressão dos preços do petróleo, o que se esperaria é que a gasolina e o diesel nas bombas dos postos tivesse uma redução, pelo menos, semelhante. Entretanto, segundo levantamento da ANP, o diesel caiu apenas 4,6% nas últimas quatro semanas, contra redução de 2,89% da gasolina no mesmo período. O sistema de abastecimento nacional, composto de distribuidoras, postos revendedores e transportadores não tem repassado o ajuste das refinarias da Petrobras na mesma velocidade, que já acumula redução de mais de 40% desde o início de março. E não há ilegalidade alguma nisso. A expectativa é de que agora, com queda de mais de 60% no consumo de gasolina nos centros urbanos nos últimos dias de março, a demanda em franca queda por causa do lockdown, este repasse demore ainda mais para acontecer, servindo como sustentação aos custos de manutenção da cadeia.

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